Dois anos de medo, desespero e horror
Aluu! Inuugujaq meus 23 fieis leitores e demais 36 que de quando em vez dão as caras no meu horrendo e triste campo de batalha literário pra ler miseráveis e infames crônicas de guerra. Ajudungila?
Em primeiro lugar, não, não passei a fazer uma crônica por mês, é que resolvi tirar umas férias literárias no Recanto em fevereiro. Não que eu canse ao escrever praqui, mas de repente, depois de umas férias brasileiras ao sol e ao mar de verão, fiquei sem assunto. E não viria aqui só para escrever bobagens, ou melhor, sem estar pensando sobre as bobagens que escreveria. Então volto hoje e, para variar, falarei de uma questão séria que muito me toca.
Amanhã fará dois anos da maldita Guerra da Ucrânia, maldita como malditas são todas as guerras. Um moedor de carne, como bem qualificam esse confronto. A bestialidade da guerra do presente não tem paralelo com nada já visto, como relatam combatentes daquele teatro de operações. Os soldados podem pisar numa mina, levar um tiro, uma bomba ou, o pior de tudo, receberem um drone suicida. Fico verdadeiramente horrorizado com as imagens de drones ucranianos e russos atingindo seus inimigos. Os caras não tem pra onde ir, onde se esconder, não há respiro. Os russos estão levando a melhor por terem dez vezes mais recursos humanos e materiais, estão dizimando os ucranianos que, de uma contraofensiva suicida, passam agora para um frágil defensiva. Os erros, no campo de batalha, custam caro, e a Ucrânia errou muito em suas táticas e estratégicas. Ou seja, tudo o que os analistas militares sérios pelo mundo vinham falando há mais de um ano, esta se confirmando na prática.
Quando no final de 2022 os russos recuaram e os ucranianos recuperaram parte do terreno ocupado, era uma armadilha para atrair os adversários para baterem de frente com suas linhas defensivas bem montadas mais atrás, e os ucranianos caíram nessa e atacaram, sendo dizimados. Esgotaram em vão valiosos recursos financeiros, materiais e, principalmente, humanos, para quase nada. Recursos que agora faltam pra sua defesa, agravada pela recusa do parlamento estadunidense em liberar mais grana. Essa tomada recente de Avdiivka mostra tudo isso claramente. O medo, o desespero e o horror dos soldados envolvidos na batalha, caçados pelos drones. Não consigo esquecer da expressão de seus rostos, já tive pesadelos com elas, pois essas máquinas infames, malditas e diabólicas filmam a pessoa enquanto se aproximam para matá-las. Drone, passo a odiar de todo o meu coração essa palavra, agora, para mim, maldita. Malditos drones, malditos. Os russos levaram vantagem porque podem matar mais do que morrer. Isso está definindo a guerra e, aliás, define toda e qualquer guerra, desde a Guerra Civil Americana, a primeira onde o peso da indústria militar mais poderosa se fez valer no campo de batalha e foi mortalmente decisiva.
É um saco de gatos essa guerra, muito me admiro por quem tem lado e faz torcida. Eu só torço por seu fim, para que mais jovens, principalmente ucranianos, deixem de morrer. Uma geração de ucranianos morreu, por nada, devido a um conflito que poderia ter sido evitado politicamente. Uma perda irreparável em todos os sentidos. Vidas perdidas, vidas destruídas, as pessoas expulsas de suas casas e cidades, perdendo tudo, de entes queridos ao patrimônio que construíram durante toda a vida. A dimensão desse horror é imensa.
O único lado menos ruim dessa barbaridade é que, se já chegou a aproximadamente 500 mil baixas de soldados (homens e mulheres) ucranianos, as baixas civis são estimadas em "apenas" 10 mil, aí incluídas mulheres, crianças e velhos. Digo "apenas", nessa maldita matemática do diabo, porque, se por exemplo, compararmos com Gaza/Israel, onde já foram 30 mil vítimas civis, veremos que são 10 mil em dois anos na Ucrânia e 30 mil em cinco meses em Gaza, não esquecendo, para dimensionar bem a relação, que são 40 milhões de pessoas na Ucrânia e 2 milhões de palestinos em Gaza. Assim, a cada dia de combates morrem 200 civis (de 2 milhões) em Gaza e 13 (de 40 milhões) na Ucrânia. Apenas num dia, o infame 7 de outubro, o terrorista Hamas assassinou 1.200 civis.
Qujanaq por terem dado uma passadinha por aqui hoje. Takuss"!
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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.
MAIS TEXTOS em:
http://charkycity.blogspot.com
(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013: "23/10/2013 00:18 - Giustina
Oi, Antônio! Como hoje não é mais aquele hoje, acredito que não estejas mais chateado... rsrrs! Quanto ao teu blog, sugiro que continues a divulgá-lo, afinal, numa dessas tu lembras tua senha... Grande abraço".)
CARTA ABERTA aos meus caros 23 fieis leitores:
https://www.recantodasletras.com.br/cartas/3403862
GLOSSÁRIO KALAALLISUT:
Ajuungila - Como estão?
Aluu - Olá.
Iterluarit kumoorn - Bom dia.
Inuugujaq - Boa tarde.
Nozes - Todos, o plural de nós. Algo assim...
Qujanaq - Obrigado.
Takuss' - Até mais.
Tuzes - Plural de tu.
Antonio Fernando Rollim de Braga Bacamarte