Que vexame, meu Deus!

Não assisti o jogo entre Cruzeiro e Sousa-PB desde o início. Estava ocupado com outras coisas. Li no X (ex-Twitter) que o primeiro tempo foi pavoroso. Bateu o desânimo. E a preocupação. Cruzeiro tem um investimento superior ao time paraibano. Mas isso não se refletia dentro do campo.

Segundo as duas folhas salariais, o time celeste deveria vencer sem dificuldades. O problema é que isso pode ficar só na teoria. Aquele valor numérico, que representa quanto o elenco ganha, não garante nada. E há outras variáveis: por exemplo, o campo estava encharcado. Não, isso não é uma desculpa. Como diz o Eclesiastes, “tudo sucede igualmente a todos”. O campo estava ruim tanto para o Cruzeiro quanto para o próprio dono da casa.

Torço para o Cruzeiro desde 1999. Sou baiano e cruzeirense, uma peça raríssima. Não é comum encontrar torcedores do Cruzeiro nas ruas de Salvador. Além dos maiores times locais, as pessoas gostam mais dos clubes do chamado “Eixo Rio-São Paulo”. Lembro de uma conversa que tive com um colega de escola, no ensino médio:

- Você torce para que time? - ele me perguntou.

- Cruzeiro.

- Cruzeiro!? As pessoas torcem para Flamengo, São Paulo, Corinthians… Nunca conheci outra pessoa que fosse cruzeirense.

O jogo entre Cruzeiro e Sousa-PB, ontem, era um confronto de mata-mata. Um vitória simples do Sousa e o Cruzeirão seria eliminado. Bastava um empate para meu time avançar. O Sofascore me informa que o segundo tempo começou. O placar: 0 a 0. Como qualquer torcedor, a gente fica otimista, ainda que seja por um momento. Passa pela cabeça: “o time tem condição de vencer”. Meia hora depois: 0 a 0, ainda. A preocupação volta. Em outro cômodo, meu pai assiste a TV e muda para o canal onde está sendo transmitido o jogo. Mesmo assim resisto em ir ver.

O até então persistente placar de 0 a 0 me fez relembrar momentos da pior fase do Cruzeiro na história: o time tinha uma dificuldade hercúlea para derrotar adversários com investimento inferior. Isso acontecia muito nos anos 2020-21, que foi o período em que o Cruzeiro esteve passando sufoco na Série B. Nesse biênio, o clube estava mais financeiramente ferrado do que hoje, tinha uma gestão pior que a atual, possuía os piores elencos já vistos em sua trajetória e sofria vexames absurdos. Foi um tempo de aflição, como canta Zé Geraldo. Alguém pode dizer que dois anos é “pouca coisa”. Para um clube grande como Cruzeiro, a angústia de dois anos é muita coisa. Parece que foi vinte, trinta anos…

Escuto o locutor gritando “gol” na TV que meu pai assiste.

- Eita, Cruzeiro! - diz meu pai.

Pronto! Estava acontecendo uma exata repetição dos vexames de três ou quatro anos atrás.

- P… que pariu! - eu disse. Só me restou xingar.

Fui capturado pelo pessimismo que talvez qualquer torcedor sinta quando seu time toma gol no final do jogo. “Ferrou! Está tudo perdido”, pensei. Meu pai, um carioca torcedor do Flamengo, demonstrou mais otimismo que eu:

- Ainda tem tempo, Cruzeiro.

Havia tempo. Tentei usar a razão: “pode ser que dê pra reagir”. Repito: o empate classificava o Cruzeiro, segundo as regras da competição. No entanto, o jogador Danillo Bala destruiu qualquer esperança. Fez outro gol. Só escutei meu pai dizer:

- Como toma um gol desses!?

Cruzeiro foi derrotado e eliminado na primeira fase. É o maior campeão da Copa do Brasil. Foi vencido de forma vergonhosa. Depois dos anos 2020-21, alguém pode argumentar, o torcedor cruzeirense poderia estar anestesiado para enfrentar uma situação assim. Mas a derrota de ontem foi um tipo singular de vexame. Foi algo que não se viu antes, nem mesmo nas piores fases.

RoniPereira
Enviado por RoniPereira em 22/02/2024
Reeditado em 23/02/2024
Código do texto: T8004787
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