DEITAR E CHORAR

DEITAR E CHORAR

Gilbamar de Oliveira

Em diversos momentos da vida precisamos chorar e esquecer tudo em derredor, tendo ou não razão para tanto, apenas guiados pela sensibilidade do coração. Então, abandonados aos nossos pensamentos, enroscados como crianças e nos deixando permanecer num canto qualquer do lar, permitir o livre fluxo das lágrimas faces abaixo até que aquela melancólica sensação de ausência seja naturalmente absorvida e esvaída. Até que a catarse nos encha de novo ânimo e partamos para enfrentar as adversidades, intensificados por novo encorajamento. São tantos os percalços na vida, tantas as desilusões, que quando choramos essas tristezas parecem simplesmente diminuir ou atingir o nível do suportável. E seguimos em frente, sempre prestes a nos deixar envolver, a cada passo nessa caminhada da existência, pela solidão do lamento.

Indubitavelmente, chorar é sempre um bálsamo, um êxtase do desabafo tanto para a mulher quanto para o homem. Não é à toa que a primeira coisa que fazemos ao nascer é chorar. Bobagem dizerem por aí que os homens não choram, que somos sentimento feito de aço. Não é bem assim. Pois mesmo Jesus Cristo nosso Salvador, o Homem puro e perfeito, o Verbo feito carne sem pecado, Senhor de tudo e de todos, chorou, por que nós homens pequeninos não choraríamos? Depreende-se, assim, que o choro é próprio do ser humano e existe para ser usufruído por ser um desfrute e um verdadeiro alívio. Eu choro, tu choras, ele/ela chora, nós choramos, isso é realmente ótimo, e é tão comum quanto viver.

Triste de quem não consegue ir às lágrimas, faz lembrar um rio seco, ou um açude abandonado, mesmo um deserto arenoso, alguém cujo impulso de segurar o choro o conduz à morte em vida. Simulando ser o machão insensível ele recalca quando desejaria extravasar e gritar ao mundo sua dor, segura seu lado emotivo quando acalentava o sonho de exibir seu clamor e chamar atenção. E muitas vezes, bem escondidinho na escuridão do seu quarto, às ocultas de outros olhos, abre a comporta do coração e se entrega ao choro igual a uma criancinha órfã, derramando oceanos de lágrimas. Logo a seguir, todavia, envergonhado porque se doou totalmente à emoção ele se abriga sob o lençol e, embora aliviado da melancolia que minava o vigor que ele pretendia sem sentimento, repreende a si mesmo pelo gesto nada digno de sua sisudez e faz cara de durão, mais parecendo um boi mocho. Tudo fachada, é óbvio. Não seja tolo, cara, chora, vai, dentro de você existe um menino apavorado querendo o colo da mãe, há em seu recôndito um lindo anseio de abraços e carinho. Deixe-se levar por esse rumo e adormeça sorrindo.

Por outro lado, emotivos à flor da pele, são muitos os que choram por dá-cá-aquela-palha, assistindo a filmes ou novelas ou diante do por do sol em esplendor. A lua cheia, então, é motivo por demais expressivo para olhares adocicados e soluços mal disfarçados. Eles não conseguem segurar as lágrimas ao vê-la magnífica lá no seu espaço. Para os tais chorar é uma experiência rotineira, quase necessidade básica. Difícil saber se pranteiam de alegria ou tristeza. E se indagamos deles por que estão chorando, respondem candidamente: “nada não, choro por qualquer coisa, sou muito emotivo”.

Haja ou não razão, chorar, enfim, e isso está comprovado pela ciência, é bom para a saúde mental e orgânica dentro dos parâmetros considerados normais. Choremos, então, quando a emoção fluir.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 02/01/2008
Código do texto: T800413
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