Série: “Sob o olhar de um professor” – Cap.#04 – Crônica: “A emoção do reconhecimento” – Renato Cardoso
Fonte: https://entrepoetasepoesias.com.br/2022/02/13/serie-sob-o-olhar-de-um-professor-cap-04-cronica-a-emocao-do-reconhecimento-renato-cardoso/
A vida é marcada por momentos. Uns bons, outros nem tanto, mas todos momentos. A influência, que pessoas deixam e as que deixamos na vida de alguém, é a mola propulsora que dá um significado de eternidade a vida.
No final de 2021, decidi lançar, depois de 14 anos, outro livro solo (nesse tempo me dediquei ao trabalho coletivo com o projeto Diário da Poesia). Não podia dar outro nome que não “Devaneios d’um Poeta”, mas, ao contrário do primeiro, este teve um subtítulo “O rosto do Poeta”.
2022 chegou e marquei local e data, estava ainda receoso devido a pandemia, mas apostei na possibilidade. Dia 10 de fevereiro foi o dia escolhido. Quando comecei a organizar a solenidade, pensei no legado deixado ao longo dos últimos anos e cheguei à conclusão que os jovens deveriam estar comigo.
Rapidamente peguei meu celular, acionei o WhatsApp e entrei em contato com João Pedro, Maria Eduarda e Bruna. Perguntei a eles se topavam participar. Prontamente disseram que sim. Montei um grupo e expliquei como seria. João e Maria declamariam dois poemas meus e um autoral cada. Já Bruna, como ótima bailarina que é, faria uma apresentação de dança.
Os dias passaram e o grande momento chegou. Estava há 2 anos e 3 meses sem preparar um evento presencial. Cheguei ao salão, arrumei as cadeiras, peguei os livros e comecei a colocá-los sobre as mesas de venda e de autógrafos. Ao fundo, para testar o som, coloquei uma playlist de “The Beatles”.
A ansiedade bateu, afinal era uma quinta-feira chuvosa e bate aquele medo de não dar ninguém. Faltando pouco para às 19h (horário marcado para o início), Maria chegou e logo depois foi a vez de Bruna e João.
Conversei com eles e, enquanto as pessoas iam chegando, busquei me concentrar. Quando o relógio bateu 19h15, decidi começar (até mesmo para prestigiar quem pode chegar no horário). Peguei o microfone e comecei a falar tudo que vinha a minha mente.
Não preparei nada. Deixei o coração falar. Depois da primeira parte, convidei João, Maria e Bruna para ocuparem seus lugares e assim foi feito. Duda e João foram os primeiros. Declaram lindamente dois poemas meus. O coração já estava acelerado.
Voltei a falar um pouco (desta vez sobre as histórias que vida nos proporciona). A plateia já estava completa. Parei de falar e chamei Bruna. Coloquei a música e observei a bela apresentação de dança que ela preparou para aquele momento tão especial.
Fui para última etapa, falei um pouco sobre as pessoas que marcaram minha jornada. Segurei a emoção e não deixei de falar sobre a minha avó (pessoa que mais me incentivou). Terminado, chamei João e Maria novamente. Seria a última rodada.
Maria olhou para mim e pediu 2 minutos de fala, que concedi prontamente. Não sabia que eles haviam preparado algo a mais. Resolveram falar sobre como começaram a escrever e como pude influenciá-los. A cada palavra dita por ela, um filme foi passando. A emoção veio, mas soube conter. Neste momento tive a certeza que eles influenciaram e marcaram minha vida mutuamente.
Sentei ao lado de Bruna. João Pedro pegou o microfone e começou a falar, seguindo o exemplo de Duda. Ouvir sobre a importância que tive no desenvolvimento de alguém, foi premiar a espera de 14 anos. Bruna, mais tímida e ao meu lado, só confirmava baixinho o quanto era verdade tudo que estava sendo falado.
A garganta deu um nó. Fiquei sem palavras para agradecer (fico sem graça quando isso acontece). Eles continuaram e declamaram, como poetas profissionais, os seus poemas autorais.
A solenidade terminou. Abracei-os, agradeci de forma tímida, e prometi a eles que escreveria este texto. As palavras ditas por eles ressoaram não somente no minha cabeça, mas também no meu coração.
Entre autógrafos e fotos, os convidados me parabenizavam pelas falas de João e Maria. Estava realizado. Não há nada no mundo que pague o reconhecimento sincero, aquele que vai de coração para coração. Eles não têm ideia do bem que me fizeram. Às vezes pensamos em desistir, mas logo lembramos que existem jovens, como eles, que necessitam de espaço para gritar ao mundo suas ideias.
O evento estava próximo ao fim, autografei os livros deles e novamente agradeci. Todos se foram, peguei minhas coisas e fui para casa. Aquela noite foi perfeita. João, Maria e Bruna escreveram mais um capítulo da minha história e daqui a 50 anos, lembrarei de três jovens que tocaram meu coração numa quinta-feira chuvosa.
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Série publicada aos domingos na Revista Entre Poetas & Poesias. Instagram: @professorrenatocardoso / @literaweb / @devaneiosdumpoeta / @revistaentrepoetas