ANOTAÇÃO DE VIAGEM
Em meio às anotações feitas durante minha última viagem, sendo essa a primeira em que fiz algumas anotações em uma agenda velha que levei em mãos para passar o tempo escrevendo no ônibus, essa foi a última feita. Escrevi enquanto passávamos por Belo Horizonte, em meio aos garranchos, devido ao balanço do ônibus, consegui decifrar o texto que segue, fiz-lhe muitos ajustes.
Qual será o destino desse caminhão que ultrapassamos? O que está pensando aquela pessoa ali na rua? Onde ela trabalha? Que lugar é esse?... São essas, talvez, algumas questões que podemos levantar observando o movimento da estrada, eu, pelo menos, fico imaginando um monte de coisas, observando do ônibus as pessoas, os veículos e tudo que acontece lá fora, enquanto mato o tédio de uma viagem longa e não consigo dormir.
As janelas dos ônibus modernos não se abrem mais, não é possível ouvir os barulhos de fora, ficamos hermeticamente fechados num mundo paralelo ambulante de aço e vidro, onde o motorista, que na necessidade de cumprir seu horário, passa em alta velocidade pelo mundo real, que acontece logo ali ao lado, deixando para trás pessoas e outros motoristas que também estão cumprindo seus horários. E nós, os passageiros, somos obrigados a cumprir o horário do motorista, não o estipulado por ele, mas por alguém superior que o faz, conforme os interesses comerciais da empresa, pois assim foi acordado ao comprarmos as passagens e aceitarmos os termos ali dispostos. Embarcamos.
Quem sabe se quem está lá na rua está ou não fazendo as mesmas perguntas? Se fosse eu aquele cara que caminha na beira da estrada faria algumas perguntas tentando elucidar o mistério que há dentro do mundo paralelo de aço e vidro que passa veloz pela estrada. Quem são aquelas pessoas ali dentro? O que fazem? Para onde vão? São felizes? Passeio ou trabalho?... Tomara que façam boa viagem! Ou simplesmente, em meio a tantas preocupações, ignoraria o que acontece à minha volta e os mundos paralelos com seus passageiros...