NEM TUDO SÃO FLORES QUANDO O PESO DISPARA

Ficou difícil ser espontâneo nesse novo tempo em que tudo precisa respeitar um conceito expresso através de duas palavrinhas, o politicamente correto, que implica no fim da naturalidade tanto na hora de falar, quanto na de escrever.

Como falar abertamente a respeito dos gordinhos, que agora recebem a pesada alcunha de obeso, uma terminologia técnica, que carrega junto ao sobrepeso uma miríade de possibilidades de comorbidades associadas, todas com sérias consequências para a qualidade de vida, o que num passado recente simbolizava um misto de alegria e bom humor.

Nas histórias em quadrinho, a figura do Bolinha, apelido de Tomás França, um gorducho que aprontava, não dando a menor bola para seus quilinhos a mais, e ainda chefiava o Clube do Bolinha, onde menina não entra. Palmas para a Luluzinha, que nunca se importou com o formato esférico da barriga do amiguinho.

A famosa dupla do Gordo e o Magro, também primava pelo bom humor de ambos os personagens, com o peso não interferindo no comportamento atabalhoado dessa dupla pra lá de especial.

Na TV brasileira reinou por muito tempo o humor do gordo Jô e do animador de auditório Chacrinha balançando sua pança, na música Tim Maia e Fat Family e no teatro inúmeros gordinhos nunca sofreram discriminação por seu porte avantajado.

Agora, o problema literalmente vem à tona, se o indivíduo precisa utilizar de transporte público, não importando sobre o que ele se desloca na terra, na água ou no ar dimensões das poltronas passaram a ser projetadas para pessoas magras e de preferência com menos de 1,7 metros de altura.

Não foram poucas as vezes que presenciei pessoas encalhando na roleta de coletivos, ou mesmo não cabendo nas poltronas, sejam elas de ônibus, trem ou aeronaves. Inclusive passei pelo ridículo de ser gentil e acabar sem ter espaço onde sentar.

Em um vôo internacional, levantei para que um avantajado passageiro da janela pudesse passar e ocupar sua poltrona, na volta, constatei que não sobrara mais espaço para mim. A solução foi ficar junto com o pessoal de bordo.

Abstraindo tudo, o que hoje sabemos é que existe uma forte relação entre sedentarismo e obesidade, e que ambos desembocam em doenças silenciosas e letais.

O melhor indicador do vertiginoso aumento do sobrepeso foi à incorporação da letra X ao tamanho das roupas, deixando com pouca representatividade os históricos e tradicionais: Pequeno, Médio e Grande. Em pouco tempo, o que já era o extraordinário X, agora recebeu o reforço do XX num primeiro momento, e finalmente o XXX.

Os alimentos super processados e os fast foods ampliaram quantidade e diversidade dos componentes em seus famosos combos, agora transformados numa bomba de calorias jamais ingerida na história do ser humano.

Se no passado um gordinho chamava atenção por ser um ponto fora da curva, hoje se tornou característica comum de três em cada cinco brasileiros. E mulheres, levam pequena desvantagem em relação aos homens.

Quem poderia imaginar que um país tipicamente magro, subnutrido e rural há sessenta anos, se transformou numa nação urbana e obesa.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 18/02/2024
Código do texto: T8001547
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.