UM LUGAR EM MIM
(...) E, logo na chegada, um tapete de seixos que bem juntinhos, um ao outro, lembram um doce de coco. Em seguida, uma plantação de flor... - Para cada uma, um nome; para cada nome, um amor. Digo logo, não há cercas. Também não há porta principal. E todas as janelas, de tão largas, são como bocas banguelas sorrindo ao me receber. A sala é decorada de coisas de antigamente. Em cada canto, emoldurado, o retrato de um parente. Não pode ser de verdade aquilo que não tem gente. Os cômodos de minha casa são bem pequenininhos. Mas, não reclamo, imagina... Assim, nunca me perco. "As paredes têm ouvidos" é bom também alertar. E elas são de barro que é mais caro que ouro. O alpendre sustenta a mim com suas colunas de fé... - E, é onde ficam os tornos, “prá mode armá minha rede”. No quintal não tem nada. Nenhum bicho preso; nem mesmo os de cozinhar. Ali não se come nada que não seja o que a terra dá. O terreiro é lugar de brincar de inventar. Por trás da minha cozinha, jorra uma nascente de água límpida... - E que sulca a terra formando os rios; arrastando os troncos de árvores, enfrentando os desafios. Sai das pedras, desce a encosta, ganha impulso, corre o trecho e vai bater do outro lado bem perto do fim do mundo. Esas águas são as lágrimas que de meu rosto caíram. Como elas nunca voltam, também parei de chorar... Mas porque se renovam não desisti de amar. Quase ia me esquecendo: os pássaros são meio tolos, não vão embora... Morreriam de saudade. Neles, puseram dois corações (ao invés de duas asas) e um gorjear de esperança. (...) E se por acaso somem, viram crianças. O que mais dizer desse lugar onde até mesmo a lua vem sempre me visitar?