A SEDUÇÃO DOS ANGELINS GIGANTES: UMA ANÁLISE CAUTELOSA
Moacir José Sales Medrado[1]
Nos confins da Amazônia, um murmúrio se espalhou como um eco distante entre os empreendedores florestais: a descoberta das Angelins Gigantes. A notícia, como uma semente lançada ao vento, parece começar a germinar, na mente dos visionários comerciais, alimentando sonhos de lucros exuberantes e promessas de uma nova era na indústria madeireira. Mas, como todas as histórias que exalam um perfume tentador, esta também traz consigo um aviso sutil, uma advertência sussurrada pelas árvores antigas da floresta.
O Angelim Vermelho, com sua madeira cobiçada e seu valor comercial inegável, sempre foi uma figura proeminente nas páginas da exploração madeireira. Sua presença imponente na floresta tropical despertou a atenção dos mercados internacionais, onde sua durabilidade e beleza estética são reverenciadas. Porém, agora, com a descoberta das Angelins Gigantes, uma nova narrativa se desenrola, uma narrativa de potencial ilimitado e oportunidades aparentemente infinitas.
Entretanto, é preciso olhar além do véu sedutor dessa promessa. A mensagem oculta entre as linhas é clara: cautela. A história já nos ensinou as consequências perigosas de abraçar cegamente a perspectiva do lucro rápido, sem considerar os custos ocultos e os riscos inerentes. Lembremos do quiri chinês e do neem que foram introduzidas com a promessa de riqueza fácil e que não se consolidaram; no caso do neem atribui-se a ela, inclusive, o desencadeamento de desequilíbrios ecológicos relacionados às abelhas e por consequência à polinização.
A perspectiva do cultivo comercial das Angelins Gigantes requer uma análise profunda e criteriosa. Não podemos nos deixar levar pela emoção do momento ou pela tentação das promessas grandiosas. Devemos olhar para além da fachada reluzente e considerar os fatores que moldam o destino dessas árvores gigantes.
A genética, o ambiente e as interações complexas entre esses elementos são como os fios invisíveis que tecem o tecido da vida na floresta. O crescimento das Angelins Gigantes não é apenas uma questão de tamanho, mas sim um eco de uma sinfonia intricada de fatores biológicos e ambientais. Entender essa harmonia requer mais do que uma visão superficial; requer um compromisso com a ciência e a sustentabilidade.
Os riscos inerentes ao investimento em plantações de Angelins Gigantes são tão vastos quanto a própria floresta que os abriga. A ausência de sistemas de produção já testados e aprovados, indicações seguras edafoclimáticas para seu plantio no país e informações sobre pragas e doenças em condições de monocultura são apenas algumas das preocupações. Além disso, a falta de experiências comprovadas de avaliação econômica da produção em plantios e a variabilidade do material de plantio também representam desafios significativos. Estes fatores, entre outros, podem transformar sonhos de lucro em pesadelos financeiros. Portanto, é imprescindível abordar essa questão com a máxima responsabilidade, considerando os impactos de nossas ações não apenas no curto prazo, mas também no longo prazo.
É imperativo que aqueles que consideram embarcar nessa jornada busquem orientação especializada de consultores experientes e éticos que indiquem, pratiquem e promovam práticas de manejo florestal responsáveis; se afastem de conselheiros que, em alguns casos se preocupam mais em venderem mudas e sonhos. A sabedoria está na compreensão de que o verdadeiro valor das árvores de espécies florestais quando plantadas comercialmente, vai além do preço de sua madeira e de sua altura e volume na floresta natural e se assenta no conhecimento científico existente e nas experiências acumuladas seja em plantio solteiro, seja em plantios agroflorestais de baixa, média ou alta complexidade.
Portanto, antes de levantar a bandeira do progresso e lançar-se ao mar incerto do cultivo comercial dos “angelins-vermelhos gigantes” da Amazônia, com base na orientação de vendedores de mudas e de sonhos devemos lembrar das lições do passado que levaram a insucesso de outras espécies introduzidas no Brasil e das vozes sussurrantes das árvores antigas. A sedução das Árvores Gigantes seja na Amazônia ou em Bornéu na Malásia é poderosa, mas somente através da sabedoria é que poderemos verdadeiramente colher, no futuro, os frutos dessa promessa.
[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE), Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM/SEPLAN – Ministério da Agricultura), Doutor em Agronomia (ESALQ/USP), Pesquisador Sênior em Sistemas Agroflorestais (Embrapa – Aposentado), Consultor Agroflorestal da Medrado e Consultores Agroflorestais Associados.