MUITA INDIGNAÇÃO

A pandemia veio chegando, as notícias de Velho Mundo pareciam ainda não alarmar as autoridades brasileiras. E olha que os primeiros casos da COVID logo começaram a pipocar por esse país continente e as autoridades persistiam inertes.

Quando o então ministro da saúde e seu staff vieram a público apresentar possíveis cenários futuros, aí sim, pela primeira vez o grande público entendeu que a desgraça que se abatera sobre a China, e em seguida pela Europa, agora sim encontraria aqui o terreno fértil para se expandir com mais velocidade, ceifando vidas, num primeiro momento entre o segmento idoso, mas em seguida atuando indistintamente sobre as demais faixas etárias.

Da noite para o dia, caiu a ficha, e infelizmente descobrimos tardiamente que o Brasil tinha no lugar do presidente, um sincero aliado do vírus, e que apoiado por uma manada de seguidores fez de tudo para negar fatos e postergar ações de preservação da vida.

Se sua trajetória genocida começou com a negação da realidade, logo evoluiu para a charlatonice aguda, agora o mito em seus lampejos de cólera, tirava de seu colete, ações que apenas um gabinete de ódio conseguiria formular com tamanha voracidade.

No princípio nossa ignorância em relação ao vírus nos exilava em casa, criando uma barreira para esse mortal desconhecido. Sapatos, roupas e alimentos industrializados ou não, deviam ser higienizados, visando assim minimizar a desgraça narrada diariamente nos principais veículos de notícia.

Para acabar de infernizar a vida da população, esse capitão com sua legião de insensatos, escolheu a dedo, um roliço pau mandado, com cargo de general, para detonar de vez a credibilidade do SUS, o Sistema Único de Saúde. Esse senhor abriu sua tresloucada governança com alterações no método de contagem de novos casos e na confirmação de óbitos. Tolinho, sua infeliz manobra não foi aceita pela mídia, que passou ela própria a contabilizar os dados informados pelas secretarias estaduais de saúde.

Seguindo modelito portenho, logo nossas noites agora tinham o silêncio quebrado pela bateção de panelas vazias, quem sabe com a premonição do que nos esperava num futuro quase que imediato, quando 15 milhões de desempregados e outros cinco milhões de desalentados, perceberam que a inflação devorava o seu já debilitado poder de compra e muitos passaram a comprar os antes descartados ossos e restos de carne dos açougues.

Os demagogos de plantão alegavam que por todos estarem no mesmo barco, algo de bom aconteceria em breve, esquecendo que o transatlântico Brasil, não contava apenas com cabines com varanda, sem varanda e aquelas internas, nosso embarcação ainda guardava semelhanças com os históricos navios negreiros, porém não mais exclusivamente composto por população negra, agora a linha de corte era miséria, que bem caracteriza as franjas urbanas depauperadas de nossas pujantes metrópoles.

Um auxílio emergencial veio evitar que a fome se alastrasse de forma menos aguda, incorporando agora à miséria uma parcela da população, que nunca precisou se inscrever no Cadastro Único, o caminho burocrático para poder desfrutar de algum alento financeiro dos programas protetivos do governo.

A indignação que perpassa este texto é um sentimento que continuo cultuando, pois todo cidadão consciente preserva sua integridade seguindo todos protocolos de assepsia que aliados ao distanciamento social, conseguiu preservar vidas nesse momento que regredimos dez anos na expectativa de vida, voltando a patamares de fome que Betinho e seus colabores conseguiram extinguir da realidade brasileira e que ainda sob o prisma econômico, o país agora depende praticamente do setor primário, com um processo de desindustrialização único no mundo contemporâneo.

Se nossa legislação tributária não era das melhores, conseguimos regredir muito, se nossas políticas sociais vinham num crescente de consolidação de direitos inalienáveis, agora tudo foi desmontado, sob a alegação da infiltração comunista nas instancias, abarcando do meio ambiente à cultura, da educação aos direitos humanos, da saúde a falta dela, do aparelhamento evangélico da polícia federal, a todas as instâncias da justiça, de um legislativo venal que independe da instância, tudo conjugado para retirar da população o produto conseguido a duras penas ao longo de décadas pelos movimentos sociais

Lembrando estes três anos de ocaso social, reforço ainda mais o sentimento vivo da mais pura indignação. Este sentimento se associa às emoções extremas de ira, fúria ou cólera. A indignação surge como uma reação espontânea a presença de um ato de injustiça, ofensa ou revolta, praticado diretamente contra uma pessoa ou sentida por empatia a alguém que sofreu um tratamento considerado incorreto. A indignação refere-se essencialmente a um conteúdo moral que estaria em jogo: a justiça.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 17/02/2024
Código do texto: T8000843
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