Erros de Português? V

Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.

- Ainda temos assunto sobre o nosso idioma. Aprendi por esses dias que existe diferença entre “despercebido” e “desapercebido” e não é só pelo “a”.

- É mesmo? Para mim, “desapercebido” é uma variante de “despercebido”.

- Pois não é! “Isso passou-me despercebido” significa algo que não notei. Se digo “Hoje eu estou um tanto desapercebido”, isso não significa que estou desatento. Significa que estou sem dinheiro insuficiente.

- Aprendi mais uma! Mais duas! Eu dizia “Vou comprar uma nécessaire”, mas descobri que o correto é “o nécessaire”. Assim como “o champanhe” ou “o champanha”. É um tipo de vinho, então emprega-se “o”.

- Antes de vir para encontrar-me com você, ouvi duas frases que me fizeram arrepiar: “Me pesa duzentas de mortandela” e “Fazem dez dias que ela operou”. E a vontade de corrigir no ato?

- Na primeira que você mencionou há quatro palavras, três inapropriadas. O certo seria “Pese-me duzentos de mortadela”. Essa pessoa que disse “Fazem” não o fez com aquele ar de convicção?

- Exato. Ar de erudição. O que ela diria se descobrisse que o certo é “Faz dez dias que ela foi operada”? E a voz passiva ainda está em uso...

- E o “seje” e o “se ele pôr”? Algo como “Se é pra ser, que seje agora” ou “E se ele pôr tudo a perder?”. São dois erros comuns. Fica tão mais agradável dizer “Se é para ser, que seja agora” e “E se ele puser tudo a perder?”.

- As formas erradas são usadas tão frequentemente que ganham força. De tanto ouvi-las, pego-me com dúvidas algumas vezes, sabe?

- Também noto que muitos não sabem a diferença entre “absolver” e “absorver”. Ontem ouvi um “Essa esponja já não absolve mais nada”. A esponja absorve; a justiça absolve. Um “r” e um “l” mudando todo o sentido.

- A portaria eletrônica do meu condomínio tem gravações com voz feminina. E a voz feminina diz “Obrigado!”. Uma condômina costuma dizer que está “meia cansada” quando deveria dizer “meio cansada”. Será que nós somos puristas ou dois velhos ranzinzas? Ou os dois? Mas amamos o nosso idioma...

René Henrique Götz Licht
Enviado por René Henrique Götz Licht em 17/02/2024
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