Série – Curiosidades Literárias – Cap.#07 – Crônica: “Machado de Assis e as balas de coco” – Renato Cardoso

Fonte: https://entrepoetasepoesias.com.br/2022/10/12/serie-curiosidades-literarias-cap-07-cronica-machado-de-assis-e-as-balas-de-coco-renato-cardoso/

Estava andando pela rua, quando avistei um rapaz. Ele deveria ter por volta dos seus 15 anos e estava vendendo balas diversas. Eu estava numa lanchonete de rua (estava lanchando, pois tinha que ir a um compromisso e não dava tempo para almoçar). Ele me viu e começou a andar em minha direção.

Entrou na lanchonete e logo me perguntou se poderia falar com ele. Disse que sim. O rapaz me explicou que estava vendendo doce, pois precisava ajudar a família, que tinha uma irmã pequena e sua mãe não tinha como trabalhar. Perguntou se eu poderia ajudar, comprando algum pacotinho com balas.

Disse que poderia. Cada pacotinho tinha cinco balas e custava 1 real. Comprei 5 pacotinhos. Ele agradeceu, mas antes de ir perguntei sobre os estudos. Ele me disse que havia largado, pois não conseguia estudar e trabalhar devido a cansaço extremo.

Aconselhei-o a não parar e que procurasse um supletivo, pois seria mais rápido. O mesmo não me prometeu que voltaria, mas que tentaria, pois sabia que era muito importante. Outras pessoas entraram na lanchonete. Ele me pediu licença, me agradeceu e foi oferecer as balas as outras pessoas.

Fiquei pensativo, imaginando que potencial poderíamos perder se este menino não completasse os estudos. Afinal, ele poderia ser um grande cientista, professor, ou um político que mudaria a realidade da sociedade. Muitos potenciais estão sendo perdidos e não sabemos.

Um homem se aproximou, pediu seu lanche a atendente e fez um breve comentário: “Machado de Assis também vendia balas”. Ele aparentava ser um professor ou alguém que gostava muito ler. Ele viu meu olhar de surpresa e me deu uma folha e disse: “Leia. Pode ficar para você”.

O lanche dele era para viagem e assim que chegou (o que não demorou) foi embora. Eu comecei a ler o texto, que acredito ser da autoria dele, onde dizia que Machado vendia balas de coco nas ruas do Rio de Janeiro.

Imagina você, leitor, comprar balas de um menino que no futuro se tornaria o maior escritor brasileiro? Então, aconteceu com muitos em meados do século XIX. Joaquim Maria Machado de Assis nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 21 de junho de 1839. Filho de um descendente de escravos e de uma portuguesa.

Machado perdeu sua mãe e sua irmã ainda na juventude e quando seu pai se casou novamente, precisou ajudar sua madrasta, vendendo balas de coco e doces nas ruas da capital carioca. Assim como o menino que me vendeu as balas, Machado de Assis não teve uma educação formal.

Era epilético e gago, mas dotado de uma inteligência fora do comum. Você, leitor, sabia que ele aprendeu alemão e inglês sozinho? E que fundou a Academia Brasileira de Letras? Mas isso são assuntos para as próximas crônicas.

Quando terminei de ler o texto daquele singelo e simpático senhor, levantei a cabeça e não vi mais o menino. Já havia ido. Por mais alguns dias o procurei, pois passava sempre por aquele caminho, mas não o encontrei.

Espero, que mesmo com todas as adversidades do mundo, o garoto possa ter o mesmo destino que Machado de Assis teve, ou que, pelo menos, a sorte possa sorrir para ele e que volte a estudar.

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