DE NOVO CARNAVAL

Mais uma vez é carnaval, momento propício para deixar a cidade maravilhosa para trás e encontrar algum lugar onde praticundum procurundum não interfira de forma tão absurda no direito de ir e vir Do cotidiano da cidade.

Se nos tempos de trabalho, esse era um aguardado momento de produzir uma quebra de rotina, e invariavelmente conseguir aproveitar essa uma semana de folga, e assim, tomar consciência que o ano propriamente dito, finalmente se iniciava logo após as festas de Momo.

Quando tudo dava errado, e não conseguia um bom local para passar esse período carnavalesco, podia aproveitar a cidade, ou melhor, a Zona Sul dessa cidade, que ganhava uma cara de passado, disponibilizando tudo de bom, que ficava ainda melhor: com ruas, cinemas e praias com pouca presença de público.

Parecia que todo mundo realmente partira para algum lugar distante. A exceção a essa calmaria generalizada ficava por conta da Banda de Ipanema, que já fazia seu desfile pelo bairro homônimo, mesmo assim em trajeto curto, que acabava pouco interferindo na vida das pessoas, como pouco movimento de veículos e pessoas, a orla dava conta do trânsito dos veículos para lá desviados.

As comemorações do reinado de Momo se restringiam aos clubes e ao bairro do Centro onde os verdadeiros foliões adultos caminhavam de um lado para outro trajando suas criativas fantasiais, enquanto a turminha jovem preferia fantasia de tirolesa para os meninos e de bailarina para as mocinhas. O desfile das Escolas de Samba, então restrito a Avenida Presidente Vargas, dava uma repentina vida a essa parte da cidade, que em caráter normal estaria literalmente entregue às moscas, com o comércio e serviços de portas fechadas.

Nos subúrbios mais badalados como Méier, Madureira e Campo Grande a animação dos foliões era contagiante e blocos locais traziam muito barulho, alegria e sujeira aos logradouros destes populosos bairros.

O tempo passou rápido, e hoje nada menos que 456 blocos de carnaval estarão nas ruas nesses quatro dias de folia, ou seja, infernizando a vida daqueles que não tem perfil carnavalesco, para quem busca alguma paz, uma saída é se isolar na Floresta da Tijuca ou da Pedra Branca, claro, se conseguir vencer os engarrafamentos que estarão harmonicamente distribuídos por toda cidade.

Não consigo avaliar quantos se beneficiam dessa epopeia e também quantos veem sua rotina subitamente alterada, seja pela incapacidade de sair de casa, seja pelo barulho provocado por esses inomináveis veículos, seja pelo numeroso contingente de alguns blocos, que agora saem a qualquer hora, muitas vezes eles próprios buscando reduzir o contingente de foliões e toda infraestrutura necessária para conter, dar segurança e ainda disponibilizar quantidade de banheiros químicos compatível com a demanda, que em alguns casos se aproxima de meio milhão de participantes.

Em síntese, a cidade que devia ser um território de todos, nesse período privilegia de forma contundente apenas um único segmento de sua numerosa e diversificada parcela de moradores.

Essa magnífica festa popular que indiscutivelmente gera empregos para muita gente qualificada, e também desqualificada a cada novo ano expande para mais dias do mês de fevereiro, o que antes se resumia ao tão aguardado feriadão.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 16/02/2024
Código do texto: T8000156
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