Assassinato no Condomínio

Olho o celular pela manhã e vejo a notificação do aplicativo de um portal de notícias. A informação: um vizinho matou o outro dentro de um condomínio no bairro de Caji, em Lauro de Freitas (Região Metropolitana de Salvador). O assassino utilizou uma arma de fogo.

Conheço Caji, pois tenho tios que moram lá. E também já trabalhei ali perto. Meus tios moram nesse lugar há uns vinte anos, suponho. Vou nessa casa deles desde quando eu era pequeno. Há muito tempo, tinha mais matagal do que casa. Era um lugar assustador, principalmente à noite. Certa vez, meu tio e umas pessoas que estavam com ele em seu carro foram abordados por criminosos que emboscavam pessoas para assaltar. Ele conseguiu arrancar com o carro e fugir, mas os bandidos dispararam. Ainda bem que ninguém ficou ferido. Ao chegar em casa, o susto ao ver as marcas de bala no veículo.

O tempo passou e Caji virou um lugar supostamente menos assustador. Hoje há mais casas do que matagal. As estradas de barro foram asfaltadas. Minhas aulas na autoescola foram nas ruas de Caji. Condomínios, prédios, comércio… tudo isso emergiu nesse bairro. Hoje tornou-se um lugar “urbano”. As coisas mudaram tanto que até o nome pode ser alterado. Meu tio sugeriu isso uma vez.

- Qual o nome desse bairro? Caji? - perguntei a ele.

- Olha, a gente está querendo mudar esse nome. - ele respondeu.

A “urbanização” de Caji não significa, porém, que o problema da criminalidade e o medo da violência cessaram. Mesmo com ruas asfaltadas, casas e condomínios por toda parte, o perigo continua. A rua onde mora meus tios está quase sempre deserta, mesmo em plena luz do dia. A faxineira da casa deles me contou que por ali há inúmeros assaltos. Os bandidos usam carro ou moto para cometer crimes.

- Outro dia vi um motoqueiro puxando a bolsa de uma mulher. - ela disse.

Também escutei relatos sobre moradores “apressados”. No ponto de ônibus, uma mulher disse:

- Os moradores daqui chegam e entram correndo em casa. Há o medo de que os bandidos os abordem na porta de casa e depois entrem.

Ela própria parecia estar com pressa para sair daquele bairro. A pressa me contagiou, pois era um lugar deserto. Eu também estava doido para sair daquele ponto de ônibus.

Não escutei ou li nada a respeito, mas é fácil supor que já houve invasão de domicílio em Caji. Eu fico preocupado, pois a porta da garagem da casa de meu tio abre e fecha bem devagar quando ele chega com o carro. Dá tempo para um ladrão rendê-lo e entrar na casa.

O medo de ser rendido por bandidos pode ser observado em Caji. Os condomínios possuem arame farpado, câmeras e seguranças. As casas possuem muros muito altos, exigindo que o bandido tenha habilidades de Homem-Aranha. No entanto, nada disso consegue impedir a violência de alcançar os moradores. Como diz a notícia citada no início da crônica, uma pessoa foi assassinada dentro de um desses locais.

Não se sabe como ou por que o atirador, que está preso, tinha uma arma. É possível que, de tanto escutar relatos de violência na área, o agora criminoso tenha optado por adquirir uma arma, acreditando que ela seria útil para a autodefesa. Uma hipótese plausível. O aplicativo do portal de notícias não informou (ainda) as circunstâncias do crime. Sabe-se que uma “discussão” teria descambado para o homicídio. Seria, portanto, um possível caso de assassinato por motivo fútil. A arma, cujo suposto propósito seria enfrentar ladrões e assaltantes, acabou sendo usada para apagar o vizinho. Ao ser interrogada, a arma certamente dirá isso em sua defesa.

- Ele me garantiu que eu só seria usada contra bandidos da rua.

Há manifestações da violência que conseguem driblar arame farpado e alarmes, pois podem aparecer de onde menos se espera. Uma pessoa de bem emocionalmente alterada, e portando uma arma, pode acabar sendo tão ou mais perigosa que um ladrão na rua.

RoniPereira
Enviado por RoniPereira em 15/02/2024
Reeditado em 15/02/2024
Código do texto: T7999694
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