Cronicamente falando...
Escrever dá trabalho. Aquela famosa frase de Albert Einstein (também atribuída a Thomas Edson, Pablo Picasso e Paul Valéry) de que a criação é 10% inspiração e 90% transpiração está certíssima. Dependendo do trabalho, os números podem variar entre 5 e 95% ou 1 e 99%, mas, com certeza, qualquer pessoa que resolva escrever alguma coisa, nem que seja uma simples redação, vai suar muito. Física e mentalmente.
Uma vez um amigo perguntou qual o meu segredo para escrever crônicas. Ora, meu caro, não existe receita de bolo, cada um tem o seu próprio método. Gosto de deixar a imaginação fluir, usar a memória, ler, conversar e, principalmente, prestar muita atenção ao que acontece à minha volta. É como dizia Ernest Hemingway: “se um escritor deixa de observar, está liquidado”.
Uma simples crônica, como está aqui, tanto pode nascer de uma palavra solta, fluindo de maneira perfeita entre o cérebro e o teclado do computador ou surgir lentamente, desde a escolha do assunto, o seu interesse, a elaboração e fluidez do texto, o uso da gramática correta até, é claro, a sua inteligibilidade. Depende do momento, sei lá.
Escrever exige pesquisa, tempo, atenção, disciplina e honestidade. Para mim significa basicamente ver, processar e informar. Aliás, informação, meus caros, pode ser uma arma muito perigosa em mãos erradas. É bom lembrar que quem vence as guerras escreve a sua verdade e não necessariamente a verdade, não é mesmo?
Liberdade de expressão é o suporte vital de qualquer democracia, bem como o direito à informação. Esconder, mentir, ou sonegar informações, ainda mais envolvendo a segurança do cidadão e seu patrimônio, deveria ser um crime hediondo. E por falar nisso, muito cuidado com meias verdades, a arma dos covardes.
Crônica é um gênero narrativo. O escritor e jornalista Moacir Amâncio garante que a crônica, oficialmente, não existe e qualquer tentativa de enquadrá-la, não é recomendável. Inconstante, descompromissada e libertária, a crônica é avessa a regras e incompatível com camisas de força. Quando perguntaram a Rubem Braga, um dos maiores escritores do gênero, o que era a crônica, ele respondeu: “Repare bem, se não é aguda é crônica!”
Sempre gostei de ler crônicas. Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Joel Silveira, Nélson Rodrigues, Carlos Heitor Cony, Carlos Eduardo Novaes, Ivan Lessa, Cora Rónai, Luiz Fernando Veríssimo, Martha Medeiros, Otto Lara Resende, Sérgio Porto, bem como a turma mais nova, tem sido ótimos companheiros nas aventuras e desventuras do dia a dia.
O cronista é um contador de casos, verídicos ou não. Alguns acham que não passa de um palpiteiro, o que não deixa de ser verdade. Eu mesmo me policio para não sair metendo o bedelho por aí, mas é uma tentação, confesso! De qualquer maneira, a crônica não é jornalismo e sim uma visão pessoal das notícias que você lê no mesmo jornal ou revista onde é publicada. A empatia com o leitor depende de sua credibilidade e, porque não, originalidade.
Escrever é um dom? Se você estiver pensando em alguém tipo um Mozart das letras, que aos quatro anos de idade já havia composto uma sinfonia, pode esquecer. Gênios são raros. É claro que a habilidade é importante, mas sem muito estudo e uma grande convivência com a escrita, nada feito. Infelizmente o mais comum é a alegação da falta desse dom para deixar de colocar boas ideias no papel.
Clarice Lispector já ensinava que "escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador". Escrever uma crônica toda a semana também é isso e mais um pouco. É praticamente um encontro marcado com os nossos leitores.
Janeiro de 2012