FÉ. REALIDADE. DESAPEGAR. MORAL.
“A palavra fé se refere tão somente à orientação que me é dada por uma ideia e a influência subjetiva exercida sobre os desenvolvimentos das ações de minha razão, que me confirma nessa ideia, embora eu não esteja em posição de lhe prestar contas sob do ponto de vista especulativo. A palavra fé é um termo de modéstia do ponto de vista objetivo; entretanto, é, ao mesmo tempo, a expressão de uma firme confiança, do ponto de vista subjetivo. Para admitir alguma coisa (crença), simplesmente, como hipótese, é preciso que eu conheça suficientemente ao menos suas propriedades, para não ter que imaginar seu conceito, mas unicamente sua existência.
Ora, a fé simplesmente doutrinal tem em si algo de instável; somos frequentemente afastados dela pelas dificuldades que se apresentam na especulação, apesar de sempre e inevitavelmente voltarmos a ela.
Tudo é diferente com a FÉ MORAL; (que tão pouco se vê praticada em nossos dias).
De fato, é absolutamente necessário, nesse caso, que alguma coisa aconteça, ou seja, que eu obedeça em todos os pontos à lei moral.” Kant
Após gigantesca dialética em sua “Crítica da Razão Pura”, o Kantismo chega ao Ser Necessário, articula, discute, e deixa patente o Ser Necessário.
Se alguma coisa existe também é preciso que exista um SER absolutamente NECESSARIO.
“O conceito precedendo a percepção, significa a simples possibilidade da coisa. A percepção que dá ao conceito a matéria, é o único caráter da realidade. É dessa maneira, percepção, que conhecemos na agulha de ferro imantada, que existe uma matéria magnética nos corpos, mesmo não nos sendo possível a percepção imediata pela natureza de nossos órgãos.”
Essa substância de que fala, considerada simplesmente como objeto do sentido interno, DÁ O CONCEITO DA IMATERIALIDADE.
A fé não especula, não se espalha em infantilidades, não afirma sobre o desconhecido pelo simples fato de ser desconhecido, e se concentra em sacrário impenetrável, nosso interior.
Se nem o maior ou um dos maiores poetas do mundo, Dante Alighieri, em “Inferno”, célebre produção literária e segunda depois da Bíblia, assim festejada, não pretende exclusividades dominantes, e resta contido em afirmações inarredáveis, somente descrevendo quadros extravagantes e belos, imaginativos e sedutores, como um purgatório para os expectantes do céu, que tinham seus olhos costurados com arame para nem mesmo para o céu olharem, pensem em qualquer um, chamado
de “matuto” por Umberto Ecco, sair fazendo assertivas sobre a existência do inferno.
O mundo estertora desde muito, longevo e datando de antanho, entre espasmos de bondade, poucos, em pura crueldade disseminada. Exemplifique-se com as guerras, permanentes, inclusive e agora, odienta, na Terra em que nasceu Jesus de Nazaré.
Quando percebermos que só no desapegar existe a realidade da insegurança, e que só nossa insegurança trás a segurança da evidência aceita no cenário da certeza, na lógica de Aristóteles, tão bem centrada nas “ cinco vias” tomistas do Santo Dominicano Tomás de Aquino, poderemos ter paz antes de ir de volta ao pó, à matéria.
Viver na hipótese, como gosto de definir, é aceitar aquilo que não é, que seria, condicional, se fosse.
A imantização interior está sob nossos sentidos, na busca serena e realista.
( Parênteses meus).