Série – Curiosidades Literárias – Cap.#06 – Crônica: “Olavo Bilac e o primeiro acidente automotivo no Brasil” – Renato Cardoso

Fonte: https://entrepoetasepoesias.com.br/2022/10/05/serie-curiosidades-literarias-cap-06-cronica-olavo-bilac-e-o-primeiro-acidente-automotivo-no-brasil-renato-cardoso/

O trânsito estava lento. Era um dia chuvoso e estava indo trabalhar. O ônibus, como sempre, estava cheio. Todo mundo meio que se apertando e ansioso para que o fluxo voltasse ao normal. Mas o que estava causando essa lentidão toda?

Uma senhora reclamava do tempo. Um senhor da lentidão. Um jovem escutava música, mesmo com fones de ouvido, alta. Conversas aleatórias aconteciam, mas todos estavam curiosos para saber o que estava acontecendo.

Depois de uns 15 minutos, andando lentamente, pudemos ver que um acidente entre um carro e uma moto estava deixando o trânsito daquele jeito. Aparentemente não teve vítimas, mas o motociclista precisava de atenção médica.

Momentos como este sempre me levaram a refletir. Logo, me veio à mente a seguinte pergunta: “Como deveria ter sido o primeiro acidente de trânsito no Brasil?”. Você, leitor, deve estar se perguntando: “O que isto tem a ver com a literatura?”. Respondo: “Tudo”.

Até os idos de 1897, o brasileiro não conhecia o automóvel (que na Europa era novidade e agitava a sociedade) e sequer tinha todas as suas ruas pavimentadas. Foi quando o abolicionista e jornalista José do Patrocínio resolveu trazer da França, o seu primeiro automóvel.

Era um Serpollet, um triciclo a vapor criado por Léon Serpollet, que andava a admiráveis 4km/h. Hoje, os carros atingem marcas superiores a 300km/h. O Rio de Janeiro então conhecia aquilo que movimentava a sociedade europeia. Patrocínio, em um de seus relatos, dizia que o veículo era o futuro, que o ser humano, finalmente, se tornava senhor da viação.

A ligação deste acontecimento com a literatura está na relação de José do Patrocínio com o poeta parnasiano Olavo Bilac, conhecido como príncipe dos poetas (título dado a ele pela Revista Fon-Fon, por ter sido um poeta popular e um dos mais lidos em sua época).

José do Patrocínio resolveu convidar o poeta para um passeio com o veículo. Se parasse por aí, talvez essa crônica não tivesse sido escrita, mas o jornalista pediu para que o poeta dirigisse o carro. No Brasil não existia nenhuma lei de trânsito naquela época. Autoescola?! Nenhuma. Logo, Bilac não sabia dirigir.

Resultado. Olavo Bilac assumiu a condução do automóvel, que faria o trajeto do bairro do Botafogo ao Alto da Boa Vista, e quando o veículo chegou a 4km/h não conseguiu fazer uma curva, batendo de frente a uma árvore.

Devido a baixa velocidade, Bilac e Patrocínio não se machucaram, mas o carro teve perda total. Imagina se Bilac dirigisse um carro hoje? Ele teria que fazer uma autoescola antes e tirar sua carteira de motorista, ou preferiria ficar com seus sonetos mesmo (nos quais ele era um dos melhores).

O veículo foi para o ferro velho. Patrocínio deve ter ficado chateado, mas, com certeza, deve ter adquirido outro. Olavo Bilac retornou a sua produção literária, que durou até 1918, ano de sua morte.

E eu? Eu estava preocupado com trânsito que voltava ao seu fluxo normal, estava atrasado. Peguei meu celular e avisei minha coordenadora, via WhatsApp, que chegaria uns minutinhos atrasado. Afinal, um sexto ano me esperava.

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