Série – Curiosidades Literárias – Cap.#04 – Crônica: “Ville de Boulogne – o navio que tirou a vida de Gonçalves Dias” – Renato Cardoso

Fonte: https://entrepoetasepoesias.com.br/2022/09/21/serie-curiosidades-literarias-cap-04-cronica-ville-de-boulogne-o-navio-que-tirou-a-vida-de-goncalves-dias-renato-cardoso/

“Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá / as aves que aqui gorjeiam / não gorjeiam como lá…”. Quem nunca ouviu esses belos versos? Eles pertencem ao grande poeta romântico, Gonçalves Dias. Poeta indianista da 1ª geração romântica, nascido no Maranhão em 1823.

Gonçalves Dias era poeta, jornalista, professor, formado em Direito pela Faculdade de Coimbra. Reconhecidamente indianista, buscou exaltar sua pátria com o seu principal poema “Canção do exílio” e consagrou o índio como o grande herói nacional em “I-Juca Pirama”.

Até aí já me adiantava bastante com a preparação da aula de literatura que daria a uma turma do primeiro ano do ensino médio, mas fatos interessantes surgiram. Gonçalves Dias é o patrono da cadeira número 15 da Academia Brasileira de Letras e ele tinha como grande admirador o imperador D.Pedro II.

Em um dado momento, quando chegava no final da pesquisa, ou seja, no momento de morte, vi que o grande poeta morreu em um naufrágio. Logo pensei, estilo Titanic? Mas nem tanto assim… Quando jovem Gonçalves Dias foi acometido de diversas doenças, até mesmo venéreas, ainda em Portugal.

Voltando para o Brasil, o poeta não procurou tratamento (o que agravou muito o seu quadro), alegando que os hospitais de Recife não tinham equipamentos e tratamentos adequados para ele. Com prescrição médica, o poeta indianista resolveu ir a França buscar recuperação.

Já naquela época, as fake news existiam. Quando o Gonçalves Dias tentou embarcar no navio Grand Condé, foi barrado pelo capitão, precisando de autoridades do império para embarcar. Antes dele chegar ao seu destino, chegou ao Brasil a notícia da sua morte, logo desmentida (D.Pedro II ficou abalado, chegando a declarar luto de três dias).

Fiquei instigado a pesquisar mais sobre o assunto, afinal toda e qualquer informação a mais é válida para deixar a aula mais interessante. Chegando a França, ele se tratou por longos 2 anos, mas sem resultados. Então, decidiu regressar a sua terra amada, embarcando no navio Ville de Boulogne.

Gonçalves Dias era o único passageiro no navio, que contava somente com tripulantes, num total de doze. Quando a embarcação estava próxima as terras brasileiras, o poeta pediu para ver o horizonte, uma vez que ele quase não saia da sua cabine e nem se alimentava direito. Foi o único momento de melhora que teve, um dia antes do acidente fatal.

O Titanic afundou devido a colisão com um iceberg, já o Ville Boulogne devido a um banco de areia na baía de Cumã, próximo à Vila de Guimarães. Ambas embarcações sofreram seus acidentes a noite, quando a visão é prejudicada pela escuridão. Mas ao contrário da primeira, todos os tripulantes do Ville Boulogne se salvaram. Mas por que Gonçalves Dias morreu?

Morreu, pois sua cabine ficava no porão do navio, e como ele não era tão visto por todos, acabou sendo esquecido, morrendo afogado aos 41 anos, no dia 3 de novembro de 1864. Junto ao poeta diversos manuscritos inéditos ficaram perdidos.

Imagina quantas preciosidades não teríamos se o acidente não tivesse acontecido… Aula do 1º ano preparada, mas ainda faltavam mais duas…

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Série – Curiosidades Literárias – Cap.#04 – Crônica: “Ville de Boulogne – o navio que tirou a vida de Gonçalves Dias” – Renato Cardoso

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