Mudança para São Paulo
Pratico o sagrado exercício do desapego, separando minuciosamente o que não será levado. Roupas e sapatos para doação. Fica também o guarda-roupa, a sapateira, a bicicleta ergométrica que mal usei, duas cadeiras de computador, uma mesa com quatro lugares, os armários da cozinha.
O novo apartamento é menor e já possui armários embutidos. E também é longe. Bem longe de onde estou agora. Em outro estado.
Foi uma decisão pensada e planejada, não acaso do destino. Na verdade tudo começou com um sonho, anos atrás. Não sei porque mas sempre vislumbrei isso, morar em São Paulo. Mesmo tendo nascido e sendo criada em uma cidade de beleza natural, como é o Rio de Janeiro. E problemas bem humanos também, confesso. Mas que, com certeza, também encontrarei na minha nova cidade de residência. Apesar disso, algo me encanta. Mesmo com seus tons de cinza e arranha céus e sotaques ainda estranhos a minha audição acostumada com chiados.
Falta apenas uma semana. No próximo sábado o caminhão chega para levar as caixas. De tudo o que ficou, tudo o que não abro mão (ainda) e vai junto comigo nessa nova jornada. E no outro sábado vou receber carona de um familiar que me levará com outros pertences pessoais e minha cachorra. Não sei o que os próximos dois anos e meio de contrato de aluguel me reservam. Não sei se fico de vez por lá ou voltarei para minha cidade e escreverei um texto contando toda a saga sobre como nossas raízes importam. Mas estou indo com o coração aberto e com medo também. Mas afinal, dizem que coragem é isso. Ir mesmo com medo.
E escolher algo sempre demanda abrir mão de outra coisa. Sim, estou abrindo mão do que conheço bem, do que estou acostumada, de coisas boas e coisas ruins. Apesar de também gostar da famosa tríade: praia, samba e cerveja, muitas vezes tão estereotipada, nunca fui uma carioca muito típica. É simples, somos humanos diversos e não nos enquadramos em caricaturas e rótulos. Então, pretendo agora vivenciar outros aspectos que me agradam. Chuva, tempo mais frio, cafeterias, livrarias, teatro. E também seu contraponto. Foco no trabalho, caos urbano, deixar a escada rolante livre a esquerda (não esquecer), dias mais introspectivos, noites mais movimentadas, padarias 24 h.
Estou feliz por tudo o que vivi e aprendi até hoje e fez desse meu sonho juvenil uma realidade na minha vida adulta. Lembrei de uma mensagem que recebi de Ano-novo de uma pessoa muito querida para mim, ela disse: Que neste ano Deus seja generoso com você. Eu acredito que agora ele está sendo. Até breve Rio. Partiu Sampa.