Coisas de avô
Tive a ideia e falei com meu neto:
— Vamos juntar os nossos Ferroramas e fazer um longo caminho de ferro?
— Vamos, respondeu ele.
Eu, o tinha presenteado no seu último aniversário com um. Ele, feliz, logo me perguntou: — Vô, quem te deu o seu?
Isso é uma longa história, Miguel. Respondi.
Na minha infância, a criatividade falava mais forte. Os meus brinquedos eram construídos pelo meu pai. Carrinho de rolimã, bola de futebol que era feita de couro curtido, costurada por ele, com uma linha encerada, juntando os pontos nos pedaços de couro que já vinham perfurados por um sapateiro da região. A câmara de ar era feita de bexiga de boi que era doada pelo açougueiro do bairro. E muitos outros brinquedos que meu pai fazia.
Na verdade, eu tinha um sonho, ganhar um ferrorama, daqueles que eu só via nas propagandas das revistas do meu irmão mais velho.
Nunca ganhei, meus pais morreram cedo.
Como os sonhos nunca envelhecem, o tempo passou, mas eu queria ter um ferrorama de qualquer jeito.
Primeiro emprego, primeiro salário, à época, recebíamos o salário na própria empresa, em espécie, em um dia certo do mês.
Meu primeiro salário foi a festa do meu sonho, entrar em uma loja e comprar o meu Ferrorama.
Ele não deu muita importância para o meu relato, nem para a expressão do meu rosto, que certamente mostrava a nostalgia do tempo passado. Simplesmente disse: —Vô, já está tudo pronto, pode ligar o seu trenzinho, que vou ligar o meu.