À Flor da Pele
Duas flores, dois amores
Uma queria ser a mais bela, FlorbellaFlor
A outra, ser a melhor, FormosaFlor
Mas ambas, presas aos galhos
- Que diferença faz? - diz a "FlorbellaFlor"
A "FormosaFlor" ouve e responde:
- Eu sou do trigo
Te dou o pão
Crio espinhos se eu quiser,
Então... Vem pro meu jardim.
- A "FlorbellaFlor",
Também sem liberdade,
Esquiva-se do vento
Percebe a força que ele tem
Mas a "FormosaFlor", não se esquiva
Agarra-se à ventania
E dá suas mãos para ela
- E o que o vento quer?
- Pergunta a FlorbellaFlor -
- Ele é passageiro
Arrasta e julga como lhe convém
E, para ele, flor não é eterna
É uma sonhadora,
É... como os sonhos,
Um vai e outro vem
E todas estão À Flor da Pele
Algumas surtam, menos a
Convencida FormosaFlor,
Aquela lá do Paraíso.
A FlorbellaFlor contempla tudo,
Faz cara feia, lamenta
Mas a FormosaFlor pensa que é superior
E não se contenta
Convoca flores e floricultores,
Perfuma o ambiente,
Aplaude e lisonjeia
À cada flor que chega
Distribui presentes, estercos e perfumes
Ah, fertilizantes só um pouquinho.
Dezenas, poucas dezenas,
Aceitam a convocação
Mas FlorbellaFlor comenta
Quanto mais flor, mais aumenta
A carência e a prisão
Queremos voar nas asas do vento
Espalhar o grão, o outro, o Bento
Benzido em outra multidão
Mas, mesmo forte,
O vento sucumbe, vira uma brisa
Descarta o que a FlorbellaFlor precisa
União e respeito no seu pomar
E livre do galho e do espinheiro
Mas só intenções não dá.
No jardim alheio
O pé de alho também deu flor
O tempero, o vinagrete
E a beleza não puseram mesa...
E a FormosaFlor ganha um beijo,
E feliz oferta o pão
Cativa ainda no galho da sua prisão,
Viu-se reverenciada num vaso
Na mesa da convenção
(E que linda mesa)
E a flor que quis ser melhor
Concordou - aqui é o meu lugar
Mastigo no prato e na colher
O que sobrar da migalha
E ainda posso criar mais espinhos
E, saiba, que sequer sei trabalhar
Rasgo beleza por onde passo
E, então, vou me eternizar
Afeiçoando-me à prisão e
À dádiva do trigo que faz o pão.
- Assim a tragédia só vai aumentar
E não deu mais tempo, murchou!
O que era flor se acabou!
Foto: Acervo próprio - Flor do Guarujá, medicinal e comestível.