História de Carnaval (3)
Durante o Carnaval, a arruaça pode acontecer a qualquer momento, a qualquer minuto. Sim, arruaceiros podem entrar em ação qualquer dia, qualquer hora, mas durante a passagem do trio elétrico há muitas pessoas acompanhando. Pessoas bêbadas, frustradas, em busca de adrenalina e, é claro, aquelas que só querem se divertir. Enquanto a música toca, várias pessoas começam a pular para um lado e para o outro e começam a movimentar os braços “colocando a base”, ou seja, como se estivessem prontas para dar soco; prontas para a briga. Estão aí as condições para a arruaça se concretizar.
E num determinado momento, ela acontece numa rua da Barra.
Dois homens no meio da multidão chegam a trocar socos brevemente. As pessoas ao redor assistem e algumas até torcem para o pau continuar a quebrar. Policiais puxam os cassetetes e dispersam os valentões e quem assistia. Toda atenção por ali estava centrada na pancadaria.
Até que o trio elétrico passou próximo a um bar. Sim, há vários bares pela Barra. Mas ali tinha algo diferente; havia algo que atraía pessoas em torno. Era um telão. Todavia, diferentemente dos outros bares nas proximidades, ali não transmitia a cobertura do Carnaval. Transmitia um evento esportivo. Não era futebol. Quer dizer, os norte-americanos chamam esse esporte de “futebol”. Nós, brasileiros, chamamos de “futebol americano”. Até alguns policiais pararam para ver. Não era um jogo qualquer. Era a grande final da National Football League (NFL), chamada de “Super Bowl”. Dentro do bar havia torcedores das duas equipes que estavam na decisão: Kansas City Chiefs enfrentava o San Francisco 49ers. A cada touchdown, a galera vibrava como se fosse um gol.
No entanto, nem todos entendiam muito bem o jogo.
- O que é touchdown? - perguntou um rapaz.
- O que é fumble? - perguntou outro. - O que é interception?
- O que é punt? - perguntou um policial.
Para cada dúvida sempre havia alguém que pacientemente explicava. Eram os “entendidos” do jogo. Normalmente, poderia se identificar um desses conhecedores pela camisa que vestiam. Alguns pularam no Carnaval, mas pouco antes do início do jogo, tiraram seus abadás e vestiram a camisa do seu time (ou franquia) que disputava a final.
Um torcedor do Kansas City Chiefs revelou qual a temporada em que começou a torcer para essa franquia:
- Desde a temporada passada, quando esse time foi campeão. - ele diz. - Eu comecei a me interessar por futebol americano desde o ano passado.
Notei que havia mais torcedores dos Chiefs do que dos 49ers naquele bar. As franquias recentemente vitoriosas tendem a cativar mais. Alguns anos atrás, havia a “febre” de torcedores do New England Patriots. Um torcedor dos 49ers explicou a sua paixão por essa franquia:
- Já estive na Califórnia. Torço para tudo que vem de lá. - ele afirmou.
O Carnaval sendo festejado lado a lado com o Super Bowl pode até ser um fenômeno singular. Entretanto, não surpreende. O futebol americano tornou-se um fenômeno global. Assim como a liga americana de basquete. O futebol (que joga com os pés) pode ser ainda a maior paixão do brasileiro, mas não é a única. No guarda-roupa, as camisas do Bahia ou do Vitória estarão lado a lado com camisas de franquias de futebol americano e de basquete dos Estados Unidos.
A final entre Chiefs e 49ers foi emocionante. Os Chiefs estavam perdendo na prorrogação, porém conseguiram virar o jogo e conquistar o bicampeonato consecutivo. Houve comemoração de alguns clientes no bar.
Horas depois, nas proximidades, uma nova confusão. A polícia intervém de forma insólita. Policiais correram como jogadores de futebol americano e derrubaram os baderneiros.