A boneca de milho
A boneca de milho
A primeira vez que aquela menina arrancou-me do meu caule para me fazer de sua filha, pensei
que ela havia me arrancado para me usar de seu alimento. “Que coisa” - logo eu. Nem estou pronto para ela me jogar dentro daquela panela com água quente e me cozinhar todinho! Mas claro que julguei a menina naquele momento. O que a menina fazia diariamente era ser minha mãe de mentirinha.
Dava-me banho, trocava e, enrolava em uns panos deixando só meus cabelos loiros de fora.
Alguns dias da semana, minha mãe chamava suas amigas para trocarem algumas ideias sobre seus filhos, tomar o chá da tarde e trocar experiências de mãe para mãe. Algumas delas gostavam de me pegar no colo, até conversavam comigo, outras nem se quer me olhava, essas traziam suas filhas e não soltavam de jeito nenhum.
Faziam tranças no meu cabelo, como se eu fosse para um desfile, quando minha mãe trocava aqueles panos que gostava de me enrolar, sempre uma de suas amigas estavam por perto e, num desses dias uma delas disse: “Noooooossa”, como sua filha se parece com uma espiga de milho!
Uma certa vez, aconteceu que uma dessas amigas de minha mãe, pediu para me trocar, me pegou no colo e, com certeza foi péssimo. Ela não tinha jeito com crianças, e foi logo arrancando meus cabelos loiros. Por mais que eu tentava escapar, não teve jeito… Quebrou alguns dentes ou grãos como alguns chamam, e como não conseguiu me quebrar ao meio, jogou-me daquele jeito em uma panela com água fervente e sal.
Minha mãe gritou chorando, assustada com a maldade de sua “amiga”; depois ficou muito brava; pois não conseguiu me salvar daquele cozimento. Minha mãe ficou se culpando por alguns tempos por ter deixado a tal amiga me pegar no colo. Eu não as culpo pelo acontecido, apesar de não ter pedido para ela me arrancar do meu caule, mas eu sabia que fui plantado para ser alimento de alguém e, se não fosse pelas mãos seria por aquelas máquinas enormes e assustadora, por isso está tudo bem.
Assim, segui apenas com o sabugo, sabendo que como era rico em fibras, fonte de nutrientes e sais minerais, seria triturado para aplicação comercial como abrasivo para polimento e lodo para a indústria de petróleo.
Autor: Lucimar Melo