Vale a pena viver de novo, e de novo, e de novo.
Na fila de emprego de uma grande rede de supermercado, uma jovem senhora reclamava das dificuldades a um outro passageiro da agonia,
- Ó moço, que dia difícil.
- Por que dona?...
- Ah meu amigo, são tantas as preocupações... Falta de emprego, essa carestia, aluguel, vestir e calçar filhos, por o feijão no prato e agora comprar material escolar.
- É senhora, a vida no nosso país está a cada dia mais difícil. Eu também estou nessa fila procurando emprego, mas não está fácil.
A noite, quando o sol se escondeu lá no morro se podia ouvir o esquentar dos tambores da escola de samba, que ia desfilar na avenida, naquele início do carnaval,
Nada anormal, todos fantasiados rebolando seu corpo semi embriagados, ainda a conseguir obedecer o que direcionava os responsáveis.
Lá no meio da multidão, aquele rapaz aproveitava pra ganhar um tostão, enquanto muitos se agitavam exibindo seus corpos semi nus, suas vaidades e seu poder aquisitivo nos seus camarotes. Ele garantia com as sobras um pouco de recurso pra o sustento da sua situação.
Empurrado pra cá, distratado pra lá, ele foi jogado num canto, entre os lixos daquela aglomeração, que o norteou a bela visão dos engradados, que forjavam a alegoria de um dos carros da estação primeira Mangueira. E espichando mais a visão, ele viu uma porta bandeira arrepiando no imenso salão, arrancando suspiro da população, uma dançarina de primeira mão.
A medida que chegou mais perto, quase morreu do coração, ao ver que aquela que sambava dentro de uma bela visão, era a mesma moça, que ele encontrará na rua, se reclamando da situação.
Pensou ele ao dizer:
- É o povo brasileiro. Prefere fechar os olhos, fazer o que o sistema manda e esquecer de tudo em alguns dias de diversão.
A partir de quarta feira, parecerá a cinderela, amargando as dores daquela ilusão.
Mas nem adiantava falar, porque além de não ouvir por causa do barulho, qualquer argumento seria em vão. Visto que tudo aquilo já sedimentou como cultura.
Continuava ele pensando:
- Será que a casa pegando fogo, a gente deve sair e comemorar?...A gente nem consegue se assentar pra escolher qual decisão tomar, visto que não há casa, não há mesa, não há cadeira e nem senso, pra saber o que fazer pra mudar.
- Se estou certo ou errado, pensando alto o rapaz. Não sei dizer, o fato é que, tanto eu, como você acordaremos na realidade de nossas dificuldades sem as resolver. Parece que vale a pena ser um ambulante nessa terra de Santa Cruz.