Não era nenhum Van Gogh mas, era top!

Ele parecia mais ansioso do que nós. Seus olhos brilhavam enquanto desembrulha o papel pardo e, depois o plástico de proteção que já evidenciava o que seria.

O quadro era enorme assim como o brontossauro na avenida movimentada que o estampava. Eu e meus irmãos achamos o máximo! Menos nossa mãe que até tentou disfarçar mas, não conseguiu por muito tempo a cara de insatisfação tipo: "Não tinha coisinha melhor, não?"

A verdade foi que nossa mãe detestou o quadro. Dizia que era muito bruto para enfeitar a sala e, que teria de ser um quadro floral ou abstrato.

Mesmo a contragosto ela teve de aceitar pois, eram quatro contra um e, lembro da animação de papai gritando enquanto segurava o quadro buscando a melhor posição para pregar na parede:

__Amor, onde está aquele pacote de pregos de aço?

__Está debaixo da pia! E cuidado para não furar toda a parede!

Até hoje recordo-me do martelar daquela tarde. Enquanto nossa mãe murmurava pelos cantos da casa dizendo que o quadro era cafona, eu imaginava meus colegas da escola chegando em casa pra estudar conosco, deparando com o quadro e dizendo:

"Que da hora! Um dinossauro!"

E meu pai martelava ao mesmo tempo que assobiava enquanto a parede era ferida por alguns buracos enormes que ele prometia cobrir assim que terminasse o serviço.

Pronto! Quadro na parede e, agora era só ficar apreciando aquela belezura e claro, esperando o elogio das visitas.

Às vezes eu ficava horas sentada no sofá admirando aquele quadro e, me dava certa aflição e medo pois, o dinossauro parecia real. Assim como o medo estampado no rosto do motorista da caminhonete verde que mal acreditava no que estava vendo. O dinossauro causando o maior apocalipse na rodovia. Eu pensava, o que seria se um animal gigante invadisse a cidade? Me arrepiava só em imaginar. Por outro lado sentia que o quadro deixava a nossa casa moderna e nós com ar de pessoas finas e requintadas.

Um belo dia tivemos que mudar de casa e, minha mãe que nunca fora com a cara daquele quadro encontrou ali a oportunidade de se livrar dele.

No dia da mudança o colocou na calçada para quem quisesse pegar. Não demorou dez minutos e o quadro foi levado.

Ficamos todos tristes sim e, principalmente depois de muitos anos quando já adulta descobri que aquele quadro do brontossauro havia sido pintado por um suíço em 1980. Não era nenhum Van Gogh mas, era top!

*Texto extraído do livro "O barulho do rio" de Andreia Caires ( 2023 )

Andreia Caires
Enviado por Andreia Caires em 11/02/2024
Reeditado em 12/02/2024
Código do texto: T7997104
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