ANGÚSTIA DO VAZIO.

Na alma, a sensação esquisita do nada, de estar incompleto todas as vezes, é horrível esse sentimento. A estranha sensação de ter perdido a própria identidade, perdido características de quem realmente sou, o questionamento constante de quem eu me tornei. É estranho pensar nessas coisas, olhar para as pessoas sorrindo, brincando, amando, vivendo com intensidade, enquanto "eu", sou apenas um vulto à espreita na angústia do vazio. A minha vida nesses últimos tempos passou ser de questionamentos, o tempo todo e todo o tempo, sem nunca encontrar uma resposta satisfatória, nada parece estar no lugar, não sei mais o que fazer. Às vezes, fico parado vislumbrando o meu reflexo no espelho por muitos minutos, até que alguém me tira do devaneio. Quando eu olho para a imagem refletida sem compreendê-la, sem alcançar a sua própria inexistência, retorno a angústia do vazio existencial. Eu não gosto do que vejo no espelho, a imagem é acusadora, revelando em palavras de silêncio as derrotas do ser aprisionado naquela imagem no espelho. A barba branca revela que o tempo não tem misericórdia, não há como escapar de suas garras. Me concentro na figura presa no espelho, em seus traços horrendos, em suas cicatrizes invisíveis, nas lágrimas persistentes para o lado de dentro. Lábios cerrados, sorriso não existe.

Este estranho prisioneiro do espelho, vivenciando a angústia do vazio todos os dias, porém, ninguém percebe que ele caminha à beira do abismo. Dias e noites traiçoeiras, acontecimentos atropelando o curso de sua monótona vida. Quem poderá entendê-lo? Sou o que não queira ser levando o barco da minha vida para águas perigosas, tempestuosas. Tornei-me um marinheiro sem destino certo, no entanto, tenho a ilusão de estar no controle sempre, quando na verdade não há controle de nada. Aqueles que convivem comigo, de alguma forma determinam cada passo que dou sem que eu tenha ciência dessa, "manipulação". A vida é cheia de mistérios, somos partes do acaso. Como eu gostaria de ter o controle de certos aspectos da minha vida. A única coisa que está dentro de meu completo domínio são as palavras, a criação literária por assim dizer, o mundo da literatura, das ideias, criando universos imaginários, tenho-os debaixo do meu punho, ainda sim, as personagens criadas no curso de minha pena querem assumir o controle de suas próprias vidas. É uma luta constante com cada um deles, diferente das outras lutas da minha vida em que sempre perco, nesse aspecto em particular, tenho a liberdade de fazer o que bem entender.

Enquanto os acontecimentos do mundo estão atropelando os dias, eu sou moído e arrastado lentamente pelo vazio silencioso e angustiante de ser quem sou. O meu desejo é de me derramar em palavras, como um rio correndo entre pedras, livre e silencioso, não o faço de uma única vez por questões óbvias, prefiro me derramar aos poucos e viver a ilusão de ter o controle da vida, controle que sei não existir.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 11/02/2024
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