"NOS TEMPOS DA BRILHANTINA" Crônica de: Flávio Cavalcante
NOS TEMPOS DA BRILHANTINA
Crônica de:
Flávio Cavalcante
Não me canso de falar desta década diferenciada de uma juventude transviada, que o sentimento que corria nas veias era de pura diversão e muito amor para dar. Aliás, a simplicidade era a nossa maior riqueza; longe da nossa imaginação de saber que no futuro, existiria um mal chamado avanço tecnológico, que seria um acrescentamento no adianto do dia a dia, mas, por outro lado, vil, para a saúde de todos nós, dependentes de uma máquina, que não nos dá permissão de pensar, trazendo à tona as enfermidades do atual, como crises de ansiedade e depressão. Acordamos tarde demais para percebermos que éramos felizes e não sabíamos.
Era uma vez nos anos dourados da brilhantina, onde o balanço do rock'n'roll ecoava pelas ruas. As jaquetas de couro e os cabelos cuidadosamente penteados eram a moda da época. Nas tardes quentes, os jovens se reuniam no diner da esquina, onde o som das jukeboxes embalava histórias de amores proibidos e sonhos inalcançáveis.
O cheiro de pomada no ar anunciava a chegada de Johnny, o galã local, com seu paletó justo e sapatos brilhantes. No banco da praça, Mary o aguardava ansiosamente, com seu vestido de bolinhas e sorriso encantador. Sob o brilho das luzes neon, suas conversas se transformavam em danças improvisadas, repletas de energia e alegria.
Nas pistas de dança, o rockabilly ditava o ritmo, enquanto as gargalhadas e paqueras preenchiam o ambiente. Os carros reluziam cromados e cores vibrantes, cruzando a cidade com uma trilha sonora de Elvis Presley e Chuck Berry. Era uma época de inocência, de amores intensos e de sonhos que pairavam no ar como borboletas dançando ao vento.
Mas, como todo conto, a era da brilhantina também tinha suas sombras. O medo da Guerra Fria pairava sobre as mentes, contrastando com a aparente despreocupação da juventude. A busca por uma utopia colidia com a realidade, criando um contraste entre a leveza das músicas e a complexidade do mundo.
Então, nos entardeceres ensolarados daquela época, entre os penteados impecáveis e os passos de dança ensaiados, desenrolavam-se crônicas de uma juventude em busca de identidade, amor e liberdade, encapsuladas nos acordes marcantes e nas letras que ecoavam pelos becos da cidade, permeando o tempo da saudosa brilhantina.
Flávio Cavalcante