RELEMBRANDO O RICARDO BOECHAT

Parece unanimidade, mesmo entre os desafetos, que o Boechat foi um grande cara, grande profissional, grande colega de trabalho, grande filho, grande pai, grande marido, grande tudo. Tomados por uma comoção nacional, os elogios, méritos, reconhecimentos, vêm em atacado. Sua inteligência, preparo, dedicação, capacidade oral e escrita, lisura, ética, coerência, enfim, atributos lhes são associados com toda legitimidade por tudo que fez ao longo da vida. Mas existe algo que ninguém mencionou (pelo menos que eu tenha notado) e que talvez seja seu maior legado: a finitude. Por mais que sejamos reverenciados, por mais que todo o entorno entoe o mesmo coro a nosso favor, somos seres frágeis e passíveis de, num instante, virarmos uma massa disforme, só possível de reconhecimento por DNA. Por mais memorável que tenham sidos os nossos feitos, por mais irrefutável tenha sido a nossa contribuição à sociedade, ao país, ao mundo, ao universo, somos criaturas que podem perecer e acabar em fração de segundos. Hoje todos choram a irreparável perda. Hoje o Brasil lamenta aquela figura descontraída, que imprimiu o jeito carioca de ser através de contundentes críticas a tudo e todos que mereciam tomar porrada. Hoje nós, agora órfãos, fiéis ouvintes e espectadores de todos os dias, vamos deixando cair a ficha até darmos conta que ele morreu. Sabemos que ninguém é eterno. Que a gente mal nasce e começa morrer, como diz a canção. Seria bom que esses milhares de fãs do Ricardo Eugênio Boechat também se percebam finitos e que situações adversas estão à nossa espreita, talvez no nosso minuto seguinte. Admitir isso nos fará menos prepotentes, menos gananciosos e menos desumanos, exatamente como ele sempre fez questão de ser. E que agora, tristemente, será só uma bela, calada e saudosa recordação querida.

 

Escrevi esse texto em 12/02/2019 e hoje me deu uma saudade danada dele.

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 10/02/2024
Reeditado em 10/02/2024
Código do texto: T7995961
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