Marajoara
A noite a coruja piando na imensa escuridão da mata, onde o silêncio moldaz só era aviltado, quando o luar deitava sobre o rio sereno, dorsado na sombra das árvores, que ouvia o coaxar das rãs e sapos, do garritar dos grilos e do brilho frio dos vaga - lumes.
A noite fria, entre os meandros dos rios gélidos , murures e água-pés, que inundavam ao redor da canoa a remo, naquela solidão das 2 horas da manhã.
Carlinhos vestido com uma camisa branca social de manga curta e uma bermuda esgalçada. Ainda um menino, obedecia o que seu Mário, o capataz, ordenava. Pulava naquele rio perigoso, de água turvas, que o abraçava num frio desenfreado. Não sabendo precisar se era por coragem ou necessidade, ele que nem fora alfabetizado procurava ali suprir a falta de responsabilidade do seu pai, ao mesmo, que o sustento pra sua mãe e seus irmãos.
Como um herói na balisa das aventuras mais bizarras, ele seguia naquela escuridão, com a água sob o pescoço, entre aningas e murures, com uma faca na cintura, uma zagaia e sua lanterna nas mãos, a procurar pelos jacarés, que adormecidos ficavam apenas com os olhos sobre as águas.
Naquela ocasião, aquele pequeno menino homem, os incandeava com a luz da lanterna e os flexava entre os olhos, com a zagaia. Alvejado, o animal, que se debatia até chegar a ajuda do capataz, que os colocavam fora de combate dentro da canoa.
Não obstante os perigos da mata, mais adiante seguiam a procurar capivara, pra tirar o couro e quando as encontravam, assim como os jacarés as abatiam tirando-as a vida pra conseguirem mais uns trocados.
Voltando pra casa na algazarra do Aracuã, bem ao clarear da aurora, completamente molhado, com sono, exausto e com os pés descalços, porque naquele tempo sapatos eram muito caros e no interior, resquícios dos escravos , a maioria não podia comprar.
A noite seguiam entre as feras, pelo dia se juntava a sua irmã e seu irmão, a montar o mundê para pegar as mucuras, depositando também no rio matapis para pegar os camarões, por fim sem perda de tempo, seguia por baixo das palafitas dos comércios, a caçar bolachas de água de sal morfadas, que os comerciantes jogavam fora pra eles reaproveitar, esquentando pra matar a fome.
Na querela das 14 horas da tarde, a sombra de um taperebazeiro sua irmã Maria , com o seu irmão Afonso faziam o fogo pra esquentar as bolachas, enquanto que , ali Carlos dormia.
Após umas duas horas de sono, as bolachas já aquecidas, eles a colocavam numa lata e seguiam no rio para fazer tapagem, a que os pudesse render mais algum alimento.
Mal chegando em casa era convocado por tal de Arthur para amansar cavalos, bois e búfalos, que o fazia com maestria.
Lá no fim do túnel, todavia, após toda essas situações ele voltava prá casa, como a cria, que foge do mundo pra se agasalhar na segurança do seu lar.
Homenagem ao meu tio Carlos Amoêdo