Meu amigo Raimundo, o Barão.
Era um homem sereno e pacificador, de pouca conversa e observador, observava ao redor sob um gole de cerveja. Gostava de ver muitos a sua mesa e assentava-se a porta de sua casa com elegância de suas pernas cruzadas a apreciar o dia, a se refrescar do calor e a admirar a beleza de quem ia e vinha.
Um gole de café, uma prosa com Piauí, um bom dia aqui outro lá, mas gostava mesmo era do Sabá.
Antes de eu chegar de viagem ele, em seu jeito quieto, as vezes sem camisa, com o seus braços cruzados, quando via minha mãe perguntava:
- E o homem?...Quando vem?...
Quando eu chegava, as vezes ele estava na porta e me cumprimentando dizia:
- Oi filho, chegou agora?...E eu se demora com ele falava. Agora com quem vou falar? Quem vai perguntar?...
Nessa cruzada me permito lembrar dele a dizer também:
- Filho, quando os meu colegas da Petrobras vieram aqui disseram, que eu estava louco em trazer a minha família pra morar num meio baixo, num buraco do fim do mundo.
Eu disse a eles com orgulho:
- Rapaz o importante é que, aqui é a minha casa. E isso tudo, que vocês vêm vai mudar. Afinal a gente é que faz o meio.
- Agora olhe só como isso aqui está, querem comprar uma casa aqui e não dá. Aqui formei todos os meus filhos e só não estudou, quem não quis. Daqui, sempre digo só saio morto.
Foi o que sempre ele disse a mim. Mas nunca tive a curiosidade de lhe perguntar como tudo isso começou.
Na ideia dos fatos faço os meus julgos, já pensou uma história de amor na ilha de Mosqueiro com dona Raimundinha, cuja mãe era o amor. Parece até história de filosofia grega, mas na verdade foi mais do que um sonho de uma noite de verão, foi a versão realista de uma união que durou através dos tempos,
a servir de exemplo a nós, que ainda buscamos essa sabedoria e conhecimento, pra viver intensamente.
Hoje ele nos deixou, adomeceu na morte, saiu de sua casa, meados de janeiro para o hospital, fez aquele salseiro, mas se acomodou. Aí começou o seu calvário; do apartamento pra UTI, ficando ali até o dia de hoje, como que a esperar se despedir de cada um, que ele amava. E como última palavra deu um suspiro, elevou a todos a dor da saudade. Nesse momento, que nos entristece, ao mesmo que nos une, fazendo refletir que aqui é uma passagem, que nunca devemos acumular coisas, que devemos por iguais, que somos, simplesmente sermos irmãos e amigos. Enxergando em cada um, sem julgar, a essência do amor, que somos capazes de produzir.
Após esse ato, em seu silêncio oportuno, enfim ele descansou e foi pra onde sempre quis ir, pra morada de sua esposa.
mas de tal sorte um imenso legado deixou.