Introdução à economia

Meus tios vieram aqui em casa. Convidei-os para entrar. Estavam com pressa, pois havia outros compromissos. Em determinado momento, meu tio revelou que se cadastrou para catar latinhas de cerveja no Carnaval de Salvador. Depois ele vai vendê-las. Minha tia questionou se as latinhas estariam mais caras ou mais baratas em relação ao Carnaval do ano passado.

- Acredito que estará mais cara se o dólar subir. - afirmou meu tio.

- E tem a ver uma coisa com outra? - perguntou minha tia.

- Claro que tem. - ele disse.

- Tem? - perguntou minha tia, olhando para mim.

Eu poderia pensar em alguma explicação. Em vez disso, peguei um livro antigo de Introdução à Economia e emprestei a meu tio.

- Está tudo aí! - eu disse.

Minha tia me olhou quase rindo. Ela sabia que meu tio não entenderia nada.

- Eu entendo! - ele disse.

- Então me diga que gráfico é esse. - disse minha tia, apontando para um gráfico presente no capítulo “Monopólio”.

Apesar de ter escrito vários textos de jornalismo econômico, essa relação entre dólar e latinhas amassadas de cerveja nunca havia passado pela minha cabeça. Conheço a relação entre juros e dívida pública, entre inflação e desemprego, entre o próprio dólar e a inflação… enfim eu conhecia um monte de relações entre assuntos econômicos, porém nunca havia refletido sobre a aplicação desses temas em uma das mais rudimentares relações de troca no sistema capitalista: um vendedor de latinhas negociando o preço delas na venda ao ferro-velho.

Comecei a refletir e me questionei se não teria relação entre os preços das latinhas amassadas e a Lei de Oferta e Procura. Ao procurar saber sobre esse conceito, lembrei de uma frase do jornalista econômico Joelmir Beting:

- Boiei e continuo boiando até hoje.

Essa frase é muito utilizada na editoria de Economia dos jornais. Em uma redação que frequentei, havia adesivos com essa frase por toda a mesa dos jornalistas de economia.

Fui na faculdade de economia e questionei um professor.

- Professor, me explique a lei da oferta e procura.

Ele deu uma explicação abstrata. Até fez gestos com as mãos como se estivesse desenhando um gráfico.

Boiei e continuo boiando até hoje.

Ele poderia simplesmente dizer que, “tudo o mais constante”, o preço de um produto vai subir se a oferta estiver menor do que a demanda. E vai diminuir se a oferta estiver maior do que a demanda.

O fato é que muita gente acha que vai parecer inteligente se usar uma linguagem rebuscada e recheada de jargões técnicos. A linguagem complexa e densa serve para impressionar os leigos, que supostamente ficam embasbacados diante do especialista. Mas tem razão Albert Einstein, o gênio da física, quando supostamente atrelou a simplicidade ao conhecimento. Não sei se ele realmente disse que “se você não pode explicar de forma simples é porque não entendeu bem o suficiente”, mas sei que um livro que ele escreveu sobre a Teoria da Relatividade é simples e relativamente (sem trocadilho) acessível.

Depois minha tia me liga e conta que meu tio conseguiu vender as latinhas por um preço muito bom. Ela conta que ele usou de argumentos tirados do livro que emprestei a ele. Elaborou uma explicação complexa sobre lei de oferta e procura que deixou o dono do ferro-velho impressionado. O cara chegou a dizer:

- Você é um especialista! Deve saber do que está falando!

Agora meu tio quer entrar na faculdade de economia.

RoniPereira
Enviado por RoniPereira em 08/02/2024
Reeditado em 08/02/2024
Código do texto: T7994829
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