O Retrato do Brasil
Não é novidade pra ninguém em nosso país, essa história, é natural nos quatro cantos do Brasil. È uma vergonha num país continental como o nosso, rico, tão rico de recursos naturais, como minério de ferro, ouro, pedras preciosas, florestas, rios, climas maravilhosos, praias, isso sem citar a sua maior riqueza, o povo brasileiro, que é de uma inteligência e de uma coragem impa para enfrentar os desafios.
A história pode ser um pouco engraçada de cara, mas não se esqueça que é o retrato do Brasil. Havia um senhor no meu bairro, mas pra ser mais preciso uns duzentos metros da minha casa. Esse senhor tinha cerca de oitenta a oitenta e cinco anos de idade. E o pior morava sozinho numa casa, se é que se pode chama um barraco daquele de casa. Olha só a condição desse tal barraco, era horrível, era de dá dó. Era todo de tabua, cheio de gretas, se alguém olha via tudo lá dentro. Piso D’us o livre, não existia, era chão batido ainda meio úmido, não havia divisão no maldito do barraco, era um vão só. O velho tinha malmente uma velha cama de solteiro sem colchão para dormir, ele colocava papelão no lastro e forrava com suas surradas cobertas. Anoitecia e amanhecia e aquele senhor de pele clara, alto, porém magro daquele barraco humilde não saia, quando não era sentado na beira da cama era deitado, era uma vida cruel, era uma vida de tristeza, era uma vida solitária que ele vivia. Quanto as suas refeições vinha uma menina não sei de onde lhe trazer o café, o almoço e o jantar. Algumas vezes eu cheguei a ver a menina lhe trazer o almoço, o pobre pegava aquela marmita, que de marmita só tinha o nome, na verdade a comida era colocada num prato, depois colocava outro por cima, aí pegava-se um pano de prato ou uma fralda de recém- nascido e amarava os pratos juntos. O velho puxava o tamborete para perto da cama e fazia-o de mesa e ali desatava os nóis da suposta marmita e assim era feito as suas refeições todos os dias.
Esse velho senhor com certeza tinham filhos, netos, noras, que sem duvida nem uma ele derramou varias e varias gotas de suor para criá-los e só ele e D’us sabe a dificuldade que ele sofreu e enfrentou para honrar o seu papel de pai. Pra depois de tanta luta, agora na fase de colher os fruto que são os carinhos, á atenção, a paciência, o cuidado, o reconhecimento, e o mais fundamental deles o amor. Se ver jogado, sozinho, como cachorro sem dono, num barraco alugado de péssima qualidade sem a mínima higiene. Veja a falta de humanidade dos familiares daquele velho. No infame do barraco não tinha quintal, não tinha aonde se tomar um banho, muito menos onde se praticar as suas necessidade fisiológicas, nesse tempo nosso bairro estava em desenvolvimento, não tinha saneamento básico como centenas de municípios da Bahia e do Brasil em pleno século vinte e um muitas das suas comunidades ainda vivem essa vergonhas.
Era costume de a comunidade fazer as suas necessidades no famoso pinico ou urinor que é a mesma coisa.
Quem tinha quintal, jogava num cantinho apropriado , quem não tinha ia jogar no campo de pouso de avião, justamente numa vala que recebia todos os dejetos do bairro que ia desembocar no manguezais .
Quem morava na rua de frente ao campo fazia a sua tubulação, quem não morava dançava.
Essa é a parte engraçada dessa historia triste, era a única vez que o senhor saia do barraco, era sempre depois de fazer as suas necessidades fisiológicas e geralmente era sempre pela manhã mais ou menos às sete horas. Quando o povo estava passando para o trabalho, justamente ele morava na rua bem movimentada. Sem vergonha ele abria a sua porta e saia porá a fora com o pinico, lá em cima perto do seu nariz, cheio de fezes, lá vai ele no meio do povo, devagarzinho, arrastando seus pés. E o povo que ia passando não se agüentavam de tanto rir, ele caminhava cerca de duzentos metros e ao chegar junto a vala, atirava os dejetos fora, depois arrancava folhas de biriba para lavar o pinico, em seguida corria o mesmo na poça d’agua, depois cheirava para se certificar que estava limpo de verdade. Esse episodio acontecia toda manhã, lá um dia meu pai que é muito brincalhão colocou uma apelido no velho e essa apelido foi “cheira pinico” e pegou e o velho passou a ser conhecido no bairro por cheira pinico.
Os meninos, inclusive eu perturbava o senhor cheira pinico o tempo todo, ele virava o cão e se vingava chegado à mãe da gente. Se passaram mais ou menos quatro anos e o senhor cheira pinico faleceu.