Erros de Português? II

Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.

- Depois da nossa última conversa, eu dei-lhe razão: há incontáveis erros em posts da internet, mas o assustador são mesmo os erros nos grandes jornais.

- Eu repito o que já lhe havia dito: o valor de falar e escrever corretamente foi perdido. E refiro-me ao básico. Uma redação é um excelente instrumento de avaliação. É lamentável que redatores profissionais se descuidem da escrita.

- Esses dias, li que um estudante “aprovou em x universidades”. Quem ele aprovou? Ele já é professor? Certamente o que o redator quis dizer é que o estudante “foi aprovado em x universidades”. Voz passiva não saiu de moda.

- Nessa linha, da falta da voz passiva, é comum ler “fulano operou o coração”. Como ele conseguiu isso? Não seria “fulano foi operado do coração” ou “fulano passou por uma cirurgia cardíaca”. Não é só na gramática que há problema; tudo começa antes, na incapacidade ou na dificuldade de raciocinar.

- Em discursos de políticos ouve-se muito o “entre eu e ele”. Na dúvida, podiam dizer “entre nós”, ou optar pela forma correta, “entre mim e ele”.

- Mas quantos reparam nesse erro? Quantos têm conhecimento suficiente para saber que ali há um erro estrutural?

- E os erros comuns em “eu tinha pago” e “eu tinha impresso”. Isso eu já considero uma sofisticação. Poucos sabem que as formas corretas são “eu tinha pagado” e “eu tinha imprimido”.

E com o verbo ser, o correto é “a conta foi paga” ou “o título está pago” e “o documento está impresso”. Vale o mesmo para segurado e seguro; soltado e solto. Um pede o verbo ter ou haver e o outro, o verbo ser ou estar. É estranho.

- Mas há uma forma que me incomoda bastante. Por exemplo, você está em um banheiro público e alguém tenta entrar. O que você diria?

- Eu diria o costumeiro “tem gente!”, embora eu saiba que não é a forma correta. Mas eu não consigo dizer “há gente”, com o verbo haver.

- Nem me fale. Certa vez, quando eu disse “há gente”, fui surpreendido com a chegada de um segurança que queria saber quem estava comigo no banheiro. Ele entendeu “há gente = a gente = nós”. E para desfazer o mal-entendido?

René Henrique Götz Licht
Enviado por René Henrique Götz Licht em 07/02/2024
Código do texto: T7993784
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.