FEMINICÍDIO

BENTO TEIXEIRA. UM FEMINICIDA?

Nelson Marzullo Tangerini

Ao ler o livro “Presença da Literatura Brasileira – História e Antologia – Das origens ao Realismo”, de Antonio Candido e J. Aderaldo Castello, 7ª edição, Editora Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, RJ, 1996, descubro, nas páginas 26 e 27, que o Sr. Bento Teixeira (o escritor?) teria cometido um feminicídio, embora, naquela época, este adjetivo ainda não houvesse sido cunhado.

Vamos ao texto do livro:

“Há controvérsias sobre a identidade deste escritor. Acredita-se que seja o Bento Teixeira nascido no Porto pela altura de 1550, que veio muito moço para o Brasil e viveu em Pernambuco como mestre-escola.

Sabemos que assassinou a mulher e foi condenado a vinte anos de prisão em 1570, mas não se tem notícia se os cumpriu efetivamente.

Em 1594, presta declarações, como cristão-novo, ante os visitadores da Inquisição, em Olinda; em 1595, é preso e mandado para Lisboa para ser julgado.

É submetido, em 1599, a um auto-de-fé penitenciário e condenado à prisão perpétua, obtendo licença para ficar solto. Faleceu no ano seguinte (1600), um anto antes da publicação da sua única obra”, “Prosopopeia”.

Segundo os autores do livro (um presente que ganhei da Profa. Marcy Corrêa, de Língua Portuguesa), esta obra única, “é um pequeno poema épico (94 estrofes em oitava rima) de estrutura deficiente em que o autor louva Jorge de Albuquerque Coelho, segundo donatário de Pernambuco, celebrando a prosperidade desta capitania e aludindo a fatos de sua colonização.

Camoniano na concepção e no estilo, interessa principalmente pelo significado histórico, por ter sido, na poesia, o iniciador de uma tradição brasileira de nativismo grandiloquente”.

Depreende-se, com o texto desses autores, que Bento Teixeira recebeu uma condenação maior pelo motivo de ser cristão-novo, não por ter assassinado “sua” mulher. Teria matado a mulher “em nome da honra”? Pouco se sabe sobre o assunto.

E mais: a Rua Bento Teixeira, na Gamboa, Zona Portuária do Rio de Janeiro, seria uma homenagem a um feminicida?

Segundo informações coletadas em diversas fontes, inclusive internet, a palavra “feminicídio” foi utilizada pela primeira vez em 1976, quando Diana Russel fez palestra sobre o assunto no Primeiro Tribunal Internacional de Crimes Contra a Mulher, em Bruxelas, Bélgica, onde defendia um processo sobre mortes de mulheres nos EUA e no Líbano.

Autora, feminista e ativista de Direitos Humanos, Diana E. H. Russel nasceu a 6 de novembro de 1938, na Cidade do Cabo, África do Sul. Mudou-se, depois, para Oakland, EUA, onde faleceu, a 28 de julho de 2020, aos 81 anos.

Passando para um outro tema, precisamos rever alguns nomes de praças, ruas e bairros que homenageiam, no Rio de Janeiro, pessoas que tiraram a vida de outras pessoas ou colaboraram com o sofrimento de seres humanos escravizados, torturados ou assassinados, como a Rua Francisco Franco (leia-se Generalíssimo Franco, ditador de Espanha), em Bangu, por exemplo. Tudo isto sem falar do bairro Rocha Miranda, homenagem a uma família de escravocratas, com uma geração futura ligada ao nazifascismo, e da Rua Barão de Cotegipe (João Maurício Wanderley), homenagem a um homem que votou contra a Lei Áurea, que libertava escravizados mas não os indenizava por trabalhos forçados, de graça, e por danos morais.

A retirada de estátuas que homenageiam figuras de histórico genocida seria um grande passo para uma nova era de liberdade e respeito ao ser humano.

...

Na foto, Diana Russel.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 07/02/2024
Reeditado em 07/02/2024
Código do texto: T7993707
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.