Lentidão no metrô

Entro na estação Brotas, no metrô de Salvador. Vou até as máquinas em que se pode fazer recarga automática do cartão de transporte. Há três máquinas. A primeira contém o aviso:

“Com defeito. Use a máquina ao lado.”

Vou na máquina ao lado. Outro aviso:

“Ih, caramba, esta também está defeituosa. Mas garanto que a máquina ao lado está funcionando”.

Vou na máquina ao lado dessa. Mais outro aviso:

“Também está com defeito. Hoje não é um bom dia :(.”

Antigamente, seres humanos faziam a recarga para o cliente. Eu lembro que havia uma atendente muito gata. Eu fazia questão de recarregar desnecessariamente só para ser atendido por ela. Atualmente, tais atendentes foram trocados por máquinas. Sabem como é, o desemprego estrutural. Os atendentes humanos que restaram só estão ali para auxiliar o cliente a usar as máquinas.

Com as máquinas defeituosas, não tenho escolha. Decido que vou recarregar o cartão na outra estação.

Mas nesse dia, o maior problema do metrô nem foram as máquinas com problemas, e sim a lentidão dos trens. Geralmente, a causa disso é a criminalidade. Bandidos roubam a fiação do metrô, o que exige manutenção, implicando na lerdeza do transporte. Um jornal local informa que esses fios elétricos possuem cobre, que pode ser vendido. Daí o interesse de criminosos, que agem durante a madrugada, horário que o metrô não funciona.

Se eu chegar na estação e o metrô tiver acabado de sair, eu costumo esperar, em média, quatro ou cinco minutos até vir outro. Isso quando o metrô está funcionando normalmente. Mas neste dia não estava. Então, esperei uns vinte minutos na estação. Outro problema: a lotação nas estações. Em dias normais, a estação pode encher, dependendo do horário. No horário que normalmente uso, não está tão cheio, pois os intervalos entre um metrô e outro são mais curtos. Neste dia, estava bizarramente lotado. Nem dava para andar direito. O pior acontece dentro dos vagões, que jocosamente passaram a ser chamados de “latas de sardinha ambulantes”. O apelido também é usado para descrever os ônibus lotados de Salvador. Todavia, torna-se mais fidedigno se for aplicado ao metrô. O ônibus lotado não é totalmente fechado. Há janelas abertas. E até a porta fica aberta para que os passageiros possam ir pendurados. O metrô não permite nada aberto (por causa dos ares-condicionados). Quando o metrô está em movimento, a porta fica fechada, apesar dos protestos. Muita gente toparia ir pendurada na porta do metrô. Ou no teto. Tudo para não chegar atrasada.

Outro detalhe: em dias de lentidão, o metrô demora mais do que o normal quando para nas estações. Isso naturalmente leva a reclamações. Um senhor, que deu a entender que não era daqui de Salvador, disse:

- Olha aí, o metrô demorando de novo pra sair. O pessoal daqui é muito passivo. No lugar de onde vim, o “motorista” ia levar pau no meio da cara. Ele ia andar rapidinho.

- Também acho. Isso só pode ser sacanagem. - disse outro.

Eles achavam que o condutor do trem estava fazendo de propósito. Mas não estava.

- Roubaram a fiação do metrô. Por isso está lento. - disse uma mulher.

- Então, os seguranças merecem levar pau. - retrucou o senhor.

Algumas pessoas riram.

No Brasil, me parece que há uma cultura de violência bastante forte. As pessoas acham que a violência serve como solução para os problemas. Mesmo dentro de espaços públicos, como o próprio metrô, há quem não tem o menor pudor em admitir que não hesita em recorrer à brutalidade “se for preciso”. Bravata? Pode ser. Mas me espanta que as pessoas falem coisas assim com naturalidade.

Depois vim saber que as máquinas de recarga estavam com defeito porque houve pessoas que as esmurraram, por acreditar que elas estavam travadas. Elas achavam que tapas e socos destravariam as máquinas, da mesma forma que umas tapas no televisor faziam a tela ficar melhor.

RoniPereira
Enviado por RoniPereira em 06/02/2024
Reeditado em 21/08/2024
Código do texto: T7993323
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