Venha Ver os O.V.N.I.S
Caros leitores ,tens filhos? Espero que sim ,pois só desse jeito saberão sobre o que vou lhes relatar. Eu tenho uma filha,uma só, mas que em um dia normal vale por dez e fala por vinte. Agora imaginem só, essa criança peralta em um dia de calor de mais de 50 graus, apesar de a noite já começar a dar sinais da sua chegada, presa comigo dentro de um apertamento ( digo apertamento ,pois, o apartamento em que moramos mede menos de 40 metros quadrados).Então imaginaram?
Bom já que imaginaram, espero sinceramente que o tenham feito, vou lhes contar sobre o dia em que a minha filha Duda e suas amigas me mostraram os seus instintos mais primitivos e animalescos e desta forma, ensinaram-me uma lição importante sobre união e defesa do seu espaço.
O dia, como disse antes, era como aqueles em que parece que existe um sol para cada habitante do planeta e olha que já era um finalzinho de tarde (reforço essa informação), isso deveria significar que o tempo deveria estar mais ameno, mas não estava.
Ah! antes de mais nada, devo esclarecer que a minha Duda tem seis anos de idade e eu já passo dos cinquenta, isso quer dizer que ela tem uma reserva infinita de energia enquanto para mim, caminhar da minha casa até a esquina ( a distância não passa de uns dez metros), onde fica o bar em que compro diariamente o meu maço de cigarros e troco uma ideia com os meus amigos, já me deixa exaurido. E mesmo assim, me sinto um atleta por ainda conseguir fazer esse percurso.
Então, retomando a minha narrativa, estávamos em casa a sós como de costume ( mais exatamente na sala), o velhote aqui estava fazendo um trabalho qualquer para a faculdade e ela como sempre matraqueando no meu ouvindo sem cessar nem por um segundo, eu só pensava comigo, enquanto tentava ler um texto e escrever algo;
-Meu Deus! Essa menina não cala a boca ,a cada cinco segundos me chama e me pergunta algo novo.
Além disso, a garota saltava como uma pipoca em uma panela com óleo fervente. Imagem só! Moramos no terceiro andar, isso significa que a minha vizinha do andar inferior deveria estar passando verdadeiro inferno com toda aquela bateção de pés no seu teto. Meu piso ,seu teto. Tiveram uma noção do drama?
Tive que tomar uma atitude radical, me levantei, prendi o seus longos cabelos que até aquele momento estavam soltos e desgrenhados, abri a porta de casa e a levei para brincar com os seus pares. Pares nada mais é do que uma palavra bonita para dizer que a levei para brincar com outras pentelhas que também estavam enchendo o saco dos seus pais e esse tiveram a mesma atitude que eu.
Aqui começa o meu aprendizado prático. Um aprendizado que até aquele momento só tinha visto em livros de geografia e de história.
Descemos para a área comum do condomínio( na realidade, seria mais apropriado chamar de conjunto habitacional em vez de condomínio, mas vá lá) a Duda assim que viu as suas coleguinhas ,para o meu total alívio e sossego, correu até elas e juntas começaram a brincar.
Comecei a observar empolgado a brincadeira daqueles cotocos de gente. Estava realmente animado, pois, como faço pedagogia, tudo que envolve este universo lúdico me interessa . Sentado no meio fio observava o comportamento e ouvia a conversa daquelas crianças.
O que vou contar vai parecer um delírio de uma mente febril, mas não é.
Como disse antes, estava sentado às observando quando de repente notei que as pequenas começaram a olhar de forma insistente para o céu. instintivamente também comecei a olhar na mesma direção.
No ar tinha um balão flanando de forma imponente, um desses que as pessoas costumam soltar em dias festivos e que são proibidos por lei, mas que ninguém respeita essa proibição, imenso. Como não entendo nada de balões, não posso dizer quantas folhas tinha, mas acredito que ele deveria ter uns dez metros de altura por outros tantos de comprimento. talvez fosse um pouco menor, para ser sincero não posso precisar o seu tamanho ,pois, a noite se fazia mais presente e com isso eu não tinha uma visão clara das suas dimensões ,mas tinha do brilho que emanava do fogo da sua bucha e das suas lanternas, essa claridade era realçado pela pela escuridão, que no céu, já se apressava. Esses pontos luminosos me ajudavam a ter uma ideia melhor sobre o seu tamanho.
Enquanto estava distraído olhando aquele bichão, ouvi a Dudinha falar para as suas amiguinhas.
-Gente, gente, os E.T.S estão vindo para cá!
A tropa de meninas que a cercava desviaram os seus olhares curiosos daquele objeto voador e começaram a olhá-la. E então uma dessas perguntou…
- Amiga ,amiga, o que faremos?
A Duda olhou ,como uma leoa que defende seu território onde as suas pequenas crias estão ou como se um instinto pré-histórico fosse despertado do âmago do seu ser, para o seu exército infantil que neste instante a cercava, olhou de volta para a sua inquisidora e respondeu…
-Amiga, não podemos deixar que venham para cá!
O restante das suas companheiras, tomadas por um sentimento de igual peso e que entre outros também envolvia o de pertencimento a um lugar e união, concordaram.
O engraçado dessa cena é que elas não demonstraram medo daquele objeto invasor, mas sim uma coragem até então não vista em seus olhares meigos e travessos.
Aqui abro um parêntese para dizer que nesta hora eu já não conseguia conter o riso ao ver umas seis meninas de idades entre quatro a seis anos confundirem um balão com um O.V.N.I. Bendita inocência infantil.
Elas se organizaram, combinaram algo entre si e juntas subiram no meio fio ,que deveria ter no máximo uns vinte centímetros e que ficava do lado oposto em que me encontrava , e voltando os seus olhares para aquele objeto começaram encará-lo e gritar palavras de ordem. As armas que tinham para combater os seus inimigos eram os seus punhos, esses pequeninos punhos foram postos em riste na direção daqueles supostos invasores . Suas munhecas eram sacudidas , no ar, de forma ameaçadora e os seus rostos estavam fechados para demonstrar que eles não eram bem-vindos naquele lugar. Naquele momento, não eram simples meninas doces e travessas que costumavam brincar naquele espaço comum ,mas sim um pequeno exército feroz que faria de tudo para não deixar que o seu lugar fosse invadido. Ah! eu é claro que não parava de rir , pois a cena apesar de ser muito interessante também era bastante cômica .
Essa “resistência” desarmada é claro que não demorou muito tempo para se desfazer, pois logo perceberam que aquilo não era uma ameaça e foram brincar de um jogo qualquer que fora inventado ali na hora e tudo voltou a ser como antes.
Contudo, fiquei um tempinho, após aquela cena terminar, refletindo sobre o que tinha acabado de ocorrer diante dos meus olhos.
Percebi que um fenômeno que até então só tinha visto em livros, acabará de ocorrer bem na minha frente.
- Vocês gostariam de saber que fenômeno é esse?
Espero que sim ,pois, mesmo correndo o risco de ser tecnicista e chato, irei explicar. Nem adianta reclamar! Essa explicação se faz necessária para entender o que estava por trás do comportamento daquelas fofoletes.
-Então, vamos lá!
Em iminência de um possível ataque de uma força agressora ou só invasora (mesmo que imaginária) aqueles que estão no território que está prestes a ser invadido se unem para defender o seu lugar.
Mesmo com um exército muito mais fraco do que seus oponentes e sem armas para serem utilizadas em sua defesa, esses lutam com o que tem. No caso da minha filha e suas amigas, elas utilizavam os punhos cerrados e agitados de forma ameaçadora na direção dos seus supostos inimigos e os seus gritos eram utilizados para afugentar os seres que não pertenciam àquele núcleo. Em nenhum momento as pequenas demonstravam medos, pelo contrário, defendiam algo único. O seu território.
Elas mesmo sem terem lido os livros que li e entenderem a grandiosidade do que estava acontecendo naquele momento, deram -me uma valiosa lição prática sobre algo que só conhecia na teoria. Qual foi essa lição? Ensinaram-me o que era o fenômeno de territorialização e união para a defesa do seu espaço. Aquelas gurias danadas , em seu ato de resistência infantil , exemplificaram que por mais forte que seja o inimigo sempre haverá aqueles que se unirão para combatê-los
Mais tarde voltamos para casa e fui dormir pensando nisso.
O Motoboy