PEQUENAS TRAGÉDIAS DO COTIDIANO

 

Algumas mulheres são patéticas, principalmente aquelas com idade mais avançada. Vivem de expectativas, mostram claramente sua condição. Olham para um viúvo ou separado como um par em potencial. Formam uma comunidade com outras solitárias e fazem as amigas cumprirem a função de irem com elas ao cinema, ao shopping, a um novo restaurante, ao parque, a uma viagem. Por que não podem ir sozinhas a lugar algum? Não devo julgar, mas muitas coisas são tão boas quando as fazemos sós, em silêncio. Dão pena porque se sentem desprezadas, solitárias. Para elas o mais triste é não terem um marido, um companheiro. Fico realmente angustiada quando vejo como algumas mulheres se sujeitam a um casamento medíocre, infeliz, para terem o status de casadas.

 

À medida que envelhecem e a escolha fica reduzida, olham um homem para o qual nem olhariam na juventude. Vejo mulheres inteligentes, ainda bonitas apesar da idade, acompanhadas de verdadeiros idiotas. Um casal é feito de duas pessoas, únicas. Não é preciso anular-se para viver com o outro.

 

As coisas mudaram muito desde os meus tempos de jovem. Algumas para pior. Uma delas é ver, homem ou mulher, principalmente mulher, já entrada em anos – tenho amigas assim – que dedicam sua vida a um cachorro. O animal é sua única companhia. Conversam com o bicho, levam-no a passear duas a três vezes ao dia, dormem com ele na cama...Quando encontram-se com outras pessoas, a conversa gira em torno do cão. Enfim, ele é seu mundo.

 

Essas criaturas praticam um dos esportes que julgo dos mais bestas hoje em dia. Criam animais, geralmente de raças exóticas, confinados em exíguos apartamentos e os levam, todos os dias, faça chuva ou faça sol, a fazer suas necessidades na rua, na grama da propriedade vizinha, no parque ou na praça. E pior, a coisa que julgo mais atroz, têm que recolher as fezes daquele que muitas vezes chamam de “filhinho”, em um saco plástico, para não emporcalhar o espaço público.

 

Será isso carência, falta de amor, falta de afeto, solidão? Há aí uma inversão perigosa. Esses animais duram pouco e quando morrem deixam um vazio. É a perda, como se fosse de um filho muito amado, são dias de luto, choro. A matéria suscita teses de psicologia, tratados e pesquisas de psiquiatria, porém não vou me prolongar no assunto. Iria ferir os brios de algumas amigas que tenho.

 

Entretanto, vejo que Pet Shops pipocam em cada esquina e são comércios muito lucrativos, ultimamente...

 

 

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 04/02/2024
Reeditado em 04/02/2024
Código do texto: T7992069
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