Antissemitismo na Bahia
Alguém devia ter caluniado a comerciante judia Herta Breslauer, pois sem que tivesse feito mal algum, ela foi vítima de agressão dentro da sua loja, em Arraial d’Ajuda, cidade no interior da Bahia. No vídeo que circula, a agressora faz acusações contra a lojista, chamando-a de “sionista assassina de crianças”.
Depois do teatro do ódio, Herta procurou a polícia.
- Acabei de sair da Polícia Civil, fiz um boletim de ocorrência. Uma mulher entrou em minha loja, me agrediu, me bateu, destruiu minha loja simplesmente pelo fato de seu ser judia. - disse Herta. - Disse que sou assassina de crianças, eu que não mato pernilongo, só pelo fato de eu ser judia.
Israel está em guerra contra o grupo terrorista Hamas, que no dia 7 de outubro de 2023 sequestrou e assassinou centenas de judeus em um ataque surpresa. O local do conflito é a Faixa de Gaza, onde milhares de palestinos, inclusive crianças, se tornaram vítimas da ofensiva israelense. Segundo a agressora, a comerciante está ajudando a matar essas crianças, mesmo ela estando a milhares de quilômetros de distância do local do confronto.
Quando a pessoa está embriagada de ódio, pode acabar inventando acusações do mesmo tipo que a agressora inventou. Ela simplesmente responsabilizou a comerciante pela morte de crianças na Palestina! A acusação é esdrúxula, mas a autora sequer elaborou alguma teoria conspiratória para fundamentá-la. Os antissemitas de outrora detalhavam seus absurdos e teorias abjetas. Parece que os antissemitas de hoje não fazem mais isso. Antissemitas? Sim, Herta tem razão ao dizer que foi vítima de antissemitismo. O “antissionismo” tem sido usado como verniz para encobrir o ódio antijudaico. Quem agride o judeu na esquina, e diz fazer isso “pelas crianças palestinas”, provavelmente já tinha o antissemitismo dentro de si e está usando da barbárie na Palestina como pretexto para externar o ódio.
Enfim, vou usar da imaginação para criar uma teoria que sustente a acusação. Cabe ao pobre cronista fazer isso, mas com o propósito de ridicularizar, é claro.
Lá vai:
Durante o dia, Herta é uma mera lojista no interior da Bahia. À noite, estaria enviando foguetes diretamente de Arraial d’Ajuda para Gaza. Para algo assim ser possível, é necessário habilidades militares inauditas! Primeiro, precisa enganar clientes e amigos; mais do que se disfarçar de lojista, é preciso viver como lojista, é preciso ser lojista de “corpo e alma”. A autenticidade é fundamental, a ponto de evitar esmagar pernilongos. Depois, e mais importante, é preciso enganar as forças armadas brasileiras e de outros países. Não é qualquer um que consegue enviar foguetes indetectáveis do interior de um estado no Brasil para o Oriente Médio.
Herta teria conseguido enganar inúmeras pessoas, forças armadas de diferentes países e governos. Mas ela não contava com a perspicácia da sua agressora, que conseguiu descobrir o que ninguém mais viu. Conseguiu desmascarar a maior espiã da história, a pessoa que consegue matar muitas outras sem precisar estar por perto. Não tem distância capaz de impor obstáculos a Herta.
Em tempo: a Associação dos Pernilongos saiu em defesa de Herta, confirmou que ela nunca encostou um dedo neles e também considerou a acusação absurda.