ELE É SOLIDÃO.

Estou vivendo um momento, para mim, difícil, e essa dificuldade não tem haver com o financeiro e nem com a saúde. Financeiramente estou "bem", não exatamente como gostaria de estar, contudo, considerando tantas situações que vejo por aí, não posso ser hipócrita, estou empregado, embora com dificuldades pago todas as minhas dívidas. No que desrespeito a saúde não é diferente. Estou para completar o quadragésimo segundo aniversário, tendo parafusos e hastes na coluna, uma doença degenerativa, e, trabalhando em serviço braçal na construção civil... Prefiro não comentar. Fácil não é, também não é o ideal, mas, é o que tenho no momento e só pelo fato de me levantar todos os dias e conseguir fazer o que faço, devo sim ser grato.

Então você deve estar se perguntando de qual dificuldade me refiro. Pois bem, nem sempre o exterior reflete o interior, de repente o sorriso nos lábios não representa o 'ser interior' de uma pessoa, o homem exterior às vezes difere e muito do homem interior. Você deve ter ouvido alguém dizer que na maioria das vezes a risada do palhaço não é de alegria e sim de desespero. Digamos que é mais ou menos isso, digamos que esse palhaço que vos escreve, sempre sorridente com todos a sua volta, não sorria para si mesmo, internamente ele é solidão.

Outro dia eu li uma frase que dizia o seguinte: "O homem mais perigoso de todos é aquele que se cura na solidão". Essa frase chamou a minha atenção, estou refletindo a dias sobre a questão abordada na frase, não sei quem a escreveu, porém, eu também acredito que, os homens mais perigosos são os modelados, por assim dizer, pela solidão. É fácil dizer; "eu gosto da solidão, de estar sozinho e tal... ", agora, viver a solidão é completamente diferente, muito se fala, pouco se vive, é assim com a maioria de nós.

Eu digo por experiência própria. Eu sempre gostei de estar só, isolado, no meu canto, mas, sempre foi qualquer coisa genérica, controlada. Nos últimos meses, para não dizer quase um ano, eu tenho experienciado a solidão de uma forma diferente. Não a clássica, do tipo em que o camarada fica em uma ilha deserta, coisas assim, mas, a solidão em meio a multidão, estar entre as pessoas e não ser notado, como se você fosse um fantasma. Se eu não provocar alguém ao diálogo o meu dia se fará em um quase completo silêncio, salvo duas ou três palavras. No começo foi difícil me acostumar com isso, no entanto, estou com certo medo, considerando o fato de eu estar gostando desse silêncio, de ter as presenças dos outros suas falas e vozes como algo incômodo. A minha luta passou a ser outra, a de me readaptar ao convívio social. No trabalho está sendo uma luta ter que "conversar", coisa tão simples para maioria, para mim, está sendo uma dificuldade tremenda.

Como já mencionei em outras crônicas, trabalho em outra cidade, passando a semana inteira nela, aos finais de semana retornando para casa. Entretanto, por motivos que não vou mencionar, estou preso, por assim dizer, na cidade onde trabalho por algumas semanas sem ir para casa. Enquanto não chega o dia de retornar para minha família, eu me tornei a minha própria solidão, e estou gostando muito desse... Como vou dizer... Terrível privilégio. Agora sou eu quem procura o silêncio, evitando pessoas que começaram a me notar, conversar, sorrir. Vai entender.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 04/02/2024
Reeditado em 04/02/2024
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