Entre Sem Bater - Europa Unida

EP Thompson disse:

"... temos que começar a agir como se já existisse uma Europa unida, neutra e pacífica. Devemos aprender a ser leais, não ao ´Oriente` ou ao ´Ocidente`, mas uns aos outros, e devemos desconsiderar as proibições e limitações impostas por qualquer estado nacional."(1)

EP Thompson deve merecer uma distinção de EA Thompson, ambos atuaram em períodos semelhantes e provocam alguma confusão. Embora os dois demonstraram um alinhamento com a história social e o movimento de base, eram diferentes. Desse modo, na data em que EP Thompson completaria 100 anos(*), uma frase dele é bastante emblemática.

EUROPA UNIDA

Os movimentos atuais na Europa, e notadamente na França, indicam que algumas teorias de EP Thompson rumam para a vitória. Por outro lado, suas ideias que merecem exaltação em vários países, como o Brasil, parecem estar fora de sintonia com a realidade. Com toda a certeza, o mundo mudou muito desde as décadas de 60 e 70 do século XX. É provável que a imagem de EP Thompson tenha uma exposição além daquilo que realmente representa.

DESAFIOS E REFLEXÕES

A frase de E.P. Thompson, a partir de um contexto histórico específico, convida-nos a refletir sobre a relevância de suas ideias no mundo atual. As profundas mudanças que certamente ocorreram desde a formulação e expansão das ideias de EP Thompson são importantíssimas. Desse modo, os avanços tecnológicos e a revolução informacional promoveram desafios nas políticas sociais e trabalhistas.

Atualmente, as guerras, inclusive dentro da própria União Europeia e a saída do Reino Unido do bloco da UE (Brexit(2)) são lapidares. O retrocesso nos direitos dos trabalhadores em diversos países colocam em xeque a viabilidade de uma Europa unida, neutra e pacífica. Por isso, debater e refletir sobre blocos econômicos não parece ser a questão central. Nesse ínterim, vemos uma crise na Argentina, que abriu mão de entrar no bloco BRICS(3), que defende os seus.

A UTOPIA DA EUROPA EM XEQUE

A visão de uma Europa unida, neutra e pacífica, com lealdade entre os cidadãos e não aos blocos de poder, é surreal. As guerras no Leste Europeu e a própria fragmentação interna da União Europeia demonstram a fragilidade dessa utopia. A saída do Reino Unido do bloco, por exemplo, evidencia as tensões e divergências que permeiam o continente. Anteriormente, a ameaça de falência de alguns países colocou à prova a unidade do bloco. A possível entrada da Ucrânia pode trazer consequências devastadoras para a ideia da Europa unida.

A "HISTÓRIA VISTA POR BAIXO" EM TEMPOS DE ALTA TECNOLOGIA

A ênfase de Thompson na "história vista por baixo", valorizando as lutas e experiências das classes populares, poderia ser fundamental. Desse modo, para compreender as dinâmicas sociais dentro das inovações tecnológicas uma educação de base seria necessária. No entanto, a ascensão da tecnologia e a crescente automação do trabalho colocaram esta possibilidade fora do contexto. Certamente, uma análise crítica que considere como essas mudanças impactam os trabalhadores e as relações de poder deveriam existir, #SQN.

A LUTA DOS TRABALHADORES EM UM CENÀRIO GLOBALIZADO

No mundo atual, onde o capital transnacional se move livremente e os direitos dos trabalhadores estão sob ameaça, as teses devem mudar. Empresas de terceiro mundo, como no Brasil, sofrem ataque dos liberais que querem mais lucros para seus acionistas. Contatamos, por exemplo, que a privatização das telecomunicações no Brasil produziu verdadeiras tungas (caso OI(4)) no país. Qualquer defesa da classe trabalhadora exige uma perspectiva internacionalista e com atualização imediata. A luta por melhores condições de trabalho e por um modelo econômico mais justo não se limita mais às fronteiras nacionais. Necessita, outrossim, de uma ação conjunta e coordenada entre os trabalhadores de todo o mundo, o que nunca existiu e nem vai existir. A perspectiva de EP Thompson da história vista de baixo é distopia ficcional.

DESAFIO E PERSPECTIVAS PARA O FUTURO DA EUROPA

Diante dos desafios contemporâneos, é necessário repensar o ideal de uma Europa unida, neutra e pacífica à luz de outras realidades. Questões geopolíticas e socioeconômicas do mundo atual, como as legiões daqueles que se refugiam na Europa sofrem com uma grande negligência. A "história vista por baixo" era para ser uma ferramenta essencial para compreender as desigualdades e os conflitos da sociedade atual. Entretanto, é necessária uma análise crítica das novas configurações do poder e das lutas sociais no contexto global.

DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA O FUTURO DO BRASIL

O caso do Brasil passa pela relação com o que será o maior bloco socioeconômico do planeta, o BRICS. Quase perdemos as boas condições que o país sempre teve no bloco por conta de ações bizarras de setores das oligarquias brasileiras. A insanidade provocou fissuras que ainda vão demorar a receber uma recomposição. Os processos de terceirização no país precarizam as condições de trabalho e as relações entre segmentos da sociedade. Desse modo, se as castas da sociedade brasileira não abrirem mão de seus privilégios(5), nosso futuro será mais difícil do que nunca.

REFLEXÕES PARA O FUTURO

Como construir nações mais coesas e solidárias, capazes de superar as divisões e os conflitos internos e externos?

Como fortalecer a democracia e a participação popular em um contexto de crescente populismo, tirania e autoritarismo

global?

Como garantir os direitos dos trabalhadores em um mundo onde o capital tem cada vez mais poder e foge para qualquer

lugar?

Como adaptar a "história vista por baixo" para compreender as novas formas de exploração e resistência no mundo

contemporâneo?

Inquestionavelmente, a obra de E.P. Thompson oferece um ponto de partida importante para refletir sobre essas questões. No entanto, é preciso ir além de suas ideias e buscar novas perspectivas e soluções para os desafios que enfrentaremos no século XXI.

A visão de Thompson, embora idealista, serve como um lembrete da importância da paz, da união e da justiça social na Europa e fora dela. Em um mundo cada vez mais interdependente, é fundamental buscar soluções conjuntas para os problemas que afligem a todos. A luta por uma blocos e nações mais justas, pacíficas e democráticas deveria ser de todos.

É impossível pensar em qualquer evolução quando temos uma guerra entre Rússia e Ucrânia e crimes diários na Faixa de Gaza. As lutas globais como defesa do meio ambiente e o dinheiro dos tais fundos soberanos são falácias há décadas. É, com toda a certeza, um desserviço pensar que ideais de EP Thompson ressuscitem na comemoração aos 100 anos do nascimento dele.

Enfim, gastemos tempo com mais reflexões e um farol para o futuro e não no passado com dogmas específicos.

"Amanhã tem mais ..."

P. S.

(*) EP Thompson completaria 100 anos em 3 de fevereiro de 2024. Estas datas comemorativas sempre sugerem alguma coisa com segundas intenções.

(1) "Entre sem bater - EP Thompson - Europa Unida" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/02/03/entre-sem-bater-e-p-thompson-europa-unida/

(2) "Brexit, um reino dividido pelo plebiscito" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2016/06/24/brexit-um-reino-dividido-pelo-plebiscito/

(3) "Entre sem bater - Vladimir Putin - O BRICS" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/07/27/entre-sem-bater-vladimir-putin-brics/

(4) "Concessão OI - A maior tunga desde 1500" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2016/06/22/concessao-oi-a-maior-tunga-desde-1500/

(5) "Entre sem bater - Milton Santos - Os Privilégios" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/01/26/entre-sem-bater-milton-santos-os-privilegios/