Todo mundo é racista.
- Todo mundo é racista.
- Que papo é esse, Willis?!
- Acalme-se, Arnold.
- Explique o que tem de ser explicado, para que não haja mal-entendidos.
- Para todos os efeitos, haja o que hajar, todos somos racistas, queiramos, ou não. E por que somos racistas?! Porque somos, ora bolas! Vivemos numa época em que, a depender das conveniências, todas as pessoas são racistas. Há racistas em todos os países, nos quatro cantos da Terra.
- Deixe de lero-lero, de papo-furado, de conversa para boi dormir. Vá, e vá logo, o mais rapidamente possível, aos finalmentes. Não me disponho a ouvir você falar mais do que sua boca. Vá direto ao assunto.
- Que apressado! A impaciência é má conselheira, ensinou o filósofo.
- Diga o que tem de dizer, e já.
- Você já percebeu, corinthiano, que hoje em dia todas as coisas vêm acompanhadas de, sei lá eu como dizer, uma idéia, ou duas, resumidas num substantivo, ou num adjetivo, ou num advérbio, de um conceito que, para surpresa de ninguém, aponta para o racismo implícito na estrutura do discurso que toda e qualquer pessoa diga mesmo que não seja um discurso?!
- Que embrulhada!
- Você já ouviu, sei, alguém, e é o alguém gente bacana, da alta, importante, autoridade, falar de racismo climático, racismo ambiental, racismo matemático, racismo solar, racismo ecológico, economia racista, sociedade racista, arquitetura racista, astronomia racista, e blablabla, e blablabla, e blablabla, e mais não sei o que que parece que não sei lá eu, entende?!
- É um furdunço dos infernos.
- E estou eu, cá, indo com os meus pensamentos, pensamentos meus que são meus e de mais ninguém, a pensar com a minha cabeça, encasquetado, com um carrapato atrás da orelha...
- Não é uma pulga?!
- Não. Pulga, não. É um carrapato. Talvez um ser teratológico misto de carrapato, pulga e piolho, monstro gêmeo da Equidna.
- Por que você a odeia?! Ela é chata pra dedéu, reconheço, mas não é muito feia, não. Tirando-lhe os dentes, as orelhas, o nariz, os lábios, as testas, as sobrancelhas, os olhos, o queixo, as bochechas, os cílios, as gengivas e o céu-da-boca até que ela fica bonitinha.
- As testas?!
- Ela tem duas testas, não tem?!
- Não estou falando da Edna, aquele tribufu. Estou falando daquele monstro grego meio leão, meio bode, meio dragão.
- A Quimera, você quer dizer.
- Que seja!
- Prossiga, mas sem me fazer perder tempo.
- Onde eu estava?!
- Quando?!
- Deixe... Ora, diz-se que há uma coisa chamada racismo ambiental, ou que seja climático, ou ecológico. Que seja! Então, fica assim, ou ansim, diria o nosso querido Barnabé, o da varejeira, ele, mesmo, em carne e osso: um cara qualquer tem uma idéia bem idiota, e sabe que é a idéia bem idiota, e sabe que a sociedade,implementando-a, destruir-se-á (Ave, Mesóclise!), e por saber disso, quer empurrar-lha goela adentro; e sabe, também, que os do povo, ao saber da idéia bem idiota, rejeita-la-á, incondicionalmente; então, ele batiza a idéia bem idiota com um nome que inibe toda e qualquer objeção, e em tal nome tem de estar, indefectivelmente, "racismo".
- Por quê?!
- Ora, por quê?! Não percebeu a brincadeira?! A idéia que se quer implementar é bem idiota, daquelas bem idiota, mesmo, e sabe-se que as pessoas não a aceitarão, então, para conter os ímpetos rebeldes de gentes insubmissas, adiciona-se qualquer palavra que as petrifique.
- Um exemplo, por gentileza. Não captei o busílis.
- Cérebro de casca de amendoim.
- É o da senhora sua mãe.
- Não ponha a minha adorável mãe na história. É o seguinte: preste'nção, mocorongo palerma: um cara qualquer quer porque quer destruir a economia de um país, e para atingir o seu fim, que é o escopo do seu objetivo colimado...
- Deixe de embromação!
- ... ele inventa uma idéia bem idiota, na área, por exemplo, ambiental, e a nomeia com um nome qualquer, e qualquer nome serve, por mais besta que seja, e afirma, com todas as letras, que com tal idéia pretende acabar com o, dar fim ao, mandar desta para a melhor o, racismo climático. Pronto. Aí a senha: racismo. Se vai o cara, com a idéia bem idiota que ele apresenta, acabar com o racismo, então é a idéia bem idiota dele coisa boa. Quem atrever-se-á a ir contra?! Toda e qualquer pessoa que ir contra ela é, automaticamente, racista. Game over!
- Ó raios!
- E quem quer ganhar a pecha de racista?! Quem?!
- 'tá osso!
- Só Jesus na causa!
- E a tal mesóclise?! Parece-me que você a adora.
- E por que não a adoraria?! Não é porque um vampiro tropical dela usa e abusa que irei desprezá-la.