Nos rios e oceanos, o ecumenismo e a tolerância religiosa
Amanhã, os católicos manifestarão sua devoção à Nossa Senhora dos Navegantes, enquanto os umbandistas o farão à Yemanjá. Aqui no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Pelotas, ocorre inclusive um momento ecumênico entre as duas celebrações, que, agora em 2024, será no dia 2, às 16 horas, na Lagoa dos Patos, o denominado, na programação oficial no site da prefeitura, "Encontro de Iemanjá com Nossa Senhora dos Navegantes". Fé é, acima de tudo, tolerância e amor entre as pessoas.
Nas cidades gaúchas que mais gosto - Charqueadas, Porto Alegre e Torres -, o 2 de fevereiro é feriado municipal em homenagem à Nossa Senhora dos Navegantes, padroeira de Charqueadas, Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. Por outro lado, nosso estado é aquele que, proporcionalmente, apresenta o maior percentual de umbandistas do Brasil e, portanto, a Festa para Yemanjá é significativa em vários municípios. Nossa Senhora dos Navegantes é uma das denominações que se dá para a Virgem Maria, Mãe de Jesus, ou seja, é uma de suas inúmeras representações no catolicismo, vinda para o Brasil via portugueses - é a padroeira da Marinha de Portugal - e espanhóis.
Já a Iemanjá brasileira tem suas origens na Nigéria (Yemojá), mais precisamente no povo ebá, um subgrupo dos iorubás - o segundo maior grupo étnico do país - primeiramente localizado entre as cidades de Ifé e Ibadã - onde ainda tem um rio chamado Yemojá -, na região fronteiriça entre os estados de Osun e Oió e, depois, transferindo-se para a cidade de Abeocutá, capital do estado de Ogum, por onde corre um rio de mesmo nome. De diversas formas, é cultuada em Cuba (Yemayá), Estados Unidos e em outros países do Caribe e América do Sul. No Brasil, seus maiores festejos ocorrem, por ordem de importância, na Bahia, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
A milenar Igreja Católica e a centenária Umbanda (1918), possuem determinado ponto de intersecção, visto que a segunda é um amálgama formado a partir de elementos de religiões africanas, do kardecismo e do catolicismo, sendo, inclusive, considerada a única religião de fato brasileira, aqui constituída espiritual, social, histórica e teologicamente. Todo esse processo, é pertinente mencionar, é amplo e multifacetado, não sendo possível mencioná-lo nessa crônica por motivo de espaço.
Por todas essas questões acima, será muito bonito ver na sexta-feira as grandes festas populares e religiosas do 2 de fevereiro (ver também: Charqueadas - Cidreira: fé) pelas margens de nossos rios e pelo litoral, espalhando a fé que repercute a tolerância e o amor entre os homens. O Filho de Maria já elevou muito alto esse lance de amor ao próximo, estabelecendo, para além do ame ao outro como a ti, o supremo "Amai-vos uns aos outros. Como eu tenho vos amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisso todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros" - João, 13:34. Amar ao outro como O Mestre nos amou.
Um bom feriadão para todos. Cuidem-se, vacinem-se, celebrem, vivam e fiquem com Deus.