MÃO INVISÍVEL

Quando a população se sente livre dos grilhões do Estado, quando a iniciativa privada encontra os meios de satisfazer as necessidades da população e tem liberdade para solucionar as adversidades da maneira que sua capacidade sugere, a riqueza trafega entre as pessoas como se uma mão invisível fizesse a remuneração de acordo com o esforço de cada um.

No Recife, antes que a população tivesse sido contaminada pelo vírus da incompetência, preguiça e aprendesse que basta se sujeitar à humilhação de pedir para receber sem contrapartida, legiões de informais enchiam as ruas.

Eram os vendedores ambulantes, os camelôs que caracterizavam o mercado popular da cidade.

Tal como as medinas dos países de língua árabe, encontrava-se de tudo para vender em locais que a maioria sabia onde encontrar.

Eram pessoas conhecidas pela maioria que inspiravam confiança e havia amabilidade e respeito entre todos.

Bancas com frutas em época de safra, baianas do acarajé, cocada, algodão doce, rolete de cana, artigos de palha, gravatas, óculos escuros, engraxates, jornaleiros, roupas e tecidos bordados para cama, mesa e banho.

Velas, flores naturais ou artificiais, fitas, guarda-chuva, caneta esferográfica, caderno escolar, jornais, revistas e livros antigos, lâmpadas, lanternas a pilha, aviamentos para costura, bilhetes de loteria, brinquedos nacionais e importados, despertadores.

Bancas de jogo do bicho. Lojinhas de reparos, amolador de tesoura, bancas de sapateiros, vendedores de tapioca e cuscuz. Coco verde, caldo de cana com pão doce. Cachorro quente com refrescos de frutas. Peixe seco, siri, aratu, cordas de caranguejo ou goiamum (vivos), aquários, peixinhos coloridos, bombas de aeração e plantas, gaiola para passarinho, ratoeira e veneno para ratos e moscas, pipoca, balinhas de todos os sabores, amendoim cozido, torrado e confeitado.

Castanha de caju, caixinhas com uva passa importada dos Estados Unidos, maçã argentina (embrulhada com papel de seda azul), bolo de fubá vendido aos pedaços em tabuleiros com café puro ou com leite previa e fartamente adoçado.

Violeiros repentistas ou emboladores acompanhados por pandeiros além de tipos populares, folclóricos como Caçarola, Lolita, Mané do palito, Chá preto e pente, o cego que vendia bilhetes de loteria, o fotógrafo lambe-lambe na pracinha do Diário, o vendedor de mapas e os camelôs, ágeis, fluentes ao demonstrar as maravilhas vindas de São Paulo que somente eles tinham para vender...

Claro que as condições atuais não permitem que o Recife volte a ser a grande feira livre de outros tempos, mas a mão invisível da economia adapta-se a qualquer modalidade de transação comercial, basta trabalhar como fizeram todas as populações que nos antecederam conforme se registrou nos textos considerados sagrados, dos quais, entre nós a bíblia é a mais conhecida. Em Gen. 3:19 está bem claro, ou o cabra trabalha ou não terá o que comer.

A natureza desenvolveu o ser humano como coletor e caçador eventual. Com base nessa característica de tendência para o ócio, que muitas vezes se confunde com preguiça, os esquerdopatas brasileiros imaginando permanecerem indefinidamente no poder criaram o “cartão cidadão” que independentemente das condições físicas, sociais ou culturais dos homens ou mulheres adultos, distribui mesada cuja única contrapartida é, através do voto, manter o poder nas mãos de quem detém a chave do cofre.

Enquanto esse benefício não for exclusivamente direcionado aos realmente inválidos permaneceremos estacionados entre poucos ricos, muitos miseráveis e todos mantidos pelos impostos gerados pela classe média que, apesar de demonizada pelos esquerdopatas, é o sustentáculo da sociedade.

CITAÇÕES

- Baianas do acarajé = iguaria da culinária baiana vendida em tabuleiros na Praça 17 e ao pé da ponte da Boa Vista, margem direita do Capibaribe.

- Caçarola = idosa que pedia esmolas e respondia com palavrões quando era chamada pelo apelido.

- Chá preto e pente = chá preto vendido em pacotinhos e os pentes, geralmente feitos de chifre. Oferecidos assim: – quer pente para homem de chifre?

- Cego da Guararapes = postado na calçada do Café Savoy, Av. Guararapes, ele pedia “esmola para o ceguinho, enquanto ele não arranja emprego”. Tornou-se vendedor de bilhetes de loteria federal.

- Gen. 3:19 – Você vai ter de comer o pão com o suor do rosto, até voltar para o solo do qual foi tirado. Você é pó, e ao pó há de voltar. (Nova Bíblia Pastoral, 4º impressão, ago. /2014 – Ed. Paulus)

- Lolita – Homossexual, irreverente, cantava pelas ruas imitando a cantora Ângela Maria e, na maioria das vezes, era manso e inofensivo.

- Mané do palito = vendia palitos de dentes apregoando “emprego de cabra safado, Mané vendendo palito”

- Medina = parte mais antiga das cidades, geralmente fortificadas e ponto de convergência da população.