Até 3 meses atrás, eu gozava de excelente saúde. Mas, por uma fatalidade, sofri uma queda. Fui atropelada pela Bromélia, minha cadela pastor belga de 8 anos, que pesa 38 quilos, Caí sobre o braço direito e fraturei a cabeça do úmero (ombro), que é um osso grande. O diagnóstico dava conta de que "não há necessidade de cirurgia", mas eu teria que usar uma tipoia por 6 semanas, tomar analgésicos e aguardar a recuperação. Eu só conseguia dormir, ingerindo remédios fortes para dores.
Pois bem, depois de cinco semanas e de sofrer horrores com essa fratura, o médico me liberou da tipoia. Eu deveria começar os exercícios de fisioterapia na semana seguinte. Aí aconteceu algo pior. Fui cuidar de uns vasos de plantas na garagem, tropecei e caí novamente, agora sobre o braço esquerdo. O diagnóstico foi idêntico ao anterior. Fiquei totalmente nocauteada. Até então a minha filha se mostrava preocupada, acompanhava as consultas e exames, colaborava com a rotina da casa, ajudava no banho e no momento de me vestir, comprava alimentos e medicamentos. Os amigos e familiares me visitavam e telefonavam para saber se eu estava melhor.
Quando ocorreu o segundo acidente, pensei: ninguém vai ter paciência para repeteco com acréscimo. Decidi contratar uma acompanhante para me amparar e me ajudar no banho e no vestir, além de fazer pequenas compras, preparar refeições. Márcia trabalhava das 14 às 19 hs, e Fátima, minha antiga diarista, cobria o período das 8 hs as 15 hs.
Mesmo assim, as dores eram mais fortes e mais difíceis de suportar. Agora doíam ambos os ombros, a coluna cervical, as costas e outras partes do corpo. Se eu me deitasse na cama, alguém teria que me levantar. Minha neta sugeriu a contratação do aluguel de uma poltrona elétrica para minimizar meu sofrimento. Melhorou um pouco, mas desde o primeiro acidente até hoje, nunca mais dormi uma noite inteira. Sempre acordo, em horários diferentes, com dores. Às vezes a dor é tão forte que sinto náuseas e não consigo comer.
No meio desse processo, apresentei essa queixa ao médico. Ele me receitou um adesivo chamado Restiva, que é uma espécie de morfina. Às 20 horas, eu colei o adesivo no braço conforme indicado e fui dormir. Às 7 horas da manhã seguinte, quando acordei, estava sentindo náuseas e descontrole intestinal. As náuseas foram aumentando até que às 9 horas eu arranquei o adesivo do braço. Era tarde. Eu já não conseguia controlar os efeitos no estômago e no intestino. Expeli tudo o que havia nessas áreas. Fiquei tão zonza que não parava em pé sem apoio. Minha filha me socorreu e fomos parar na emergência do hospital. Lá aplicaram alguns medicamentos como decadron, novalgina, dramim e outros na veia. Quando eu me senti um pouco melhor fui liberada para casa com receita de medicamentos via oral, e com a recomendação de que, se piorasse, deveria retornar ao hospital.
De fato, piorei. Ao anoitecer, tudo recomeçou. Agora doía também a cabeça e a nuca. Voltamos a emergência naquele mesmo dia, quando faltavam apenas 10 minutos para a meia noite. A médica de plantão queria me internar, mas eu estava com os ombros danificados. Pedi para retornar à casa após a medicação. Desta vez ela incluiu o medicamento Tilatil, que eu gosto muito. Novamente foi tudo aplicado na veia: dramin, novalgina, tilatil e outros. E nova receita para continuar a medicação via oral por uma semana, com a recomendação de retornar ao hospital, se necessário.
Depois de tudo isso, eu me olhava no espelho e não me reconhecia. Olheiras enormes, rosto envelhecido, pele acinzentada. Estava cadavérica. Emagreci três quilos.
Eu vivia em um inferno. Muita dor o tempo todo, a medicação já não fazia o efeito esperado, o sono estava totalmente prejudicado. Durante mais de três meses sequer consegui ter uma noite de sono normal, um acordar sem dor, um dia inteiro de paz. As pessoas à minha volta não conseguiam perceber as minhas dificuldades e limitações. Nenhuma delas possuía a sensibilidade e a capacidade de se colocar na situação em que eu vivia. Seguidamente eu necessitava explicar como deveriam me ajudar a vestir, tirar a roupa, tomar banho, comer, deslocar, deitar, levantar, retirar e repor objetos.
Ficar sozinha era um alívio e, ao mesmo tempo, um desamparo. Estar acompanhada era um peso e, ao mesmo tempo¸ um alívio.
Eu via meu Projeto definhar junto comigo. As plantas secavam, ficavam feias e tristes. A rega era insuficiente, o matinho crescia nos canteiros e vasos, algumas adoeciam, outras se enraizavam fortemente, como querendo se salvar.
Os pássaros já não se aproximavam em busca de água e comida. Eu os via de longe, tentava lhes dar alguma comida, mas não conseguia mover os braços. Qualquer movimento extra era muito doloroso.
Contratei a Silvana para me fazer massagens, comprei umas pomadas de alívio imediato. Ela vinha três vezes por semana me atender em casa. Como também não é especialista em massagens para acidentados, o resultado foi insatisfatório quanto ao alívio das dores.
O Dr. Vitor é um jovem médico que parece entender um pouco mais a descrição que faço do sofrimento que me afeta. Ele é atencioso, carinhoso e vem me acompanhando, mês a mês, através dos RX. Na última consulta, liberou-me para a fisioterapia. Já fui algumas vezes à clínica, que fica próximo de casa. Estou gostando dos primeiros resultados.
Emocionalmente fiquei muito abalada. Voltei ao trabalho. Minhas plantas, pássaros e cães estão mais felizes. O ambiente caseiro está mais leve. Ainda sinto cansaço. As limitações me impedem de viajar, resisto à participação social, estou ansiosa. Sei o que me afeta. Tenho dificuldades para relaxar, administrar crises, conviver e dialogar com pessoas mais falantes, mais festivas.
Estou melhorando...
Bsb, 31/01/2024