TEMPO DE ESCOLHAS

Passamos com o tempo a valorizar alguns simples substantivos, e um em especial carrega consigo um turbilhão de emoções, oportunas ou não, decisivas ou não, avaliadas ou não e ainda poderia continuar aqui divagando por laudas de diferentes verbos, que associados ao tempo permitiriam viajar por significados praticamente ilimitados.

Mesmo entre pessoas de nosso convívio direto podemos tirar conclusões precipitadas ou não, baseadas em premissas que só mesmo o tempo e a experiência de vida nos permitem compreender cada situação vivenciada, preferencialmente a posteriori, quando a emoção já foi diluída pelo tempo.

Difícil mesmo é conseguir agir no tempo certo, entender, estudar, aproveitar, aprender e consolidar o conhecimento naquela rápida fração em que ocorre o evento, caso contrário, perde-se momentaneamente o trem da história, comprometendo a capacidade de discernir de forma crítica o que denominamos como realidade momentânea.

Nesse momento, fica mais fácil entender como funcionamento a ignorância, imagine o tamanho do problema que teria alguém com pouca formação se aventasse trabalhar no campo abstrato? Tente exemplificar de maneira simplificada o que é um átomo, ou mesmo um axioma matemático, para quem usualmente precisa fazer uso dos dedos, quando precisa fazer a simples operação de adição. Sem dúvida, só restaria a esse indivíduo utilizar o campo da fé, para assim aceitar essas abstrações do complexo, porém rico de possibilidades campo das ideias.

Toda essa introdução serve para mostrar que esse contingente de pessoas que trabalham nessa seara tem pouca representatividade quando se pensa em grande contingente demográfico, como por exemplo, o da população brasileira.

Como convivemos quase sempre entre nossos pares, e claro, o que seria a parte mais expressiva de trabalhadores só aparece pontualmente prestando serviços diretos e indiretos para a camada com maior e melhor formação acadêmica, e como consequência direta disso a que detém maior poder aquisitivo.

Foi nesse singular cenário, que literalmente veio à tona um certo capitão, que aliado aos colegas de farda, contando com o apoio de influentes pastores evangélicos e ainda de um grupo de descontentes com o governo anterior, formou um contingente capaz de levar ao Palácio do Planalto, um inexpressivo deputado do baixo clero, que passou praticamente em branco por vários mandatos, sem apresentar sequer uma singela emenda.

Contando fielmente com esse contingente de votos fieis de repente esse exército de esquecidos viu na tosca figura desse militar de segunda linha, a esperança de contar com alguém em Brasília, que pelos menos nos hábitos, ou na falta deles, espelhava uma situação corriqueira de seu cotidiano de pobreza.

E foi assim que o país entrou em tempo de retrocesso, passamos então a tomar pé que existia sim, um público conservador/ retrógrado, e que nesse momento emergiu, perdendo a vergonha de mostrar sua cara, e que logo seria militarizado tanto em ministérios como em cargos dos demais escalões do governo.

E o pior, esse avalanche de votos supostamente liberais contaminou o Senado, o Congresso e se espalhou por algumas unidades da federação, interferindo diretamente na vida da população.

Não foi o tempo de pandemia que fez o país cair da sétima para a décima quinta posição no ranking econômico internacional. O país virou pária nessa história de terror que durou infinitos 1.460 dias.

Nunca na história desse país um Ano Novo foi tão aguardado, nunca se viveu dois meses em que o tempo preguiçosamente parecia não passar. O tempo de esperança tão ansiosamente aguardado pelos 60 milhões de eleitores que garantiram um terceiro mandato, e que começa agora antecipadamente a mostrar que o pesadelo passou, porém sequelas remanescentes de uma política genocida, que visava entregar o que ainda restava de biomas ao agronegócio e as mineradoras e que permanecerão por muito tempo como feridas expostas pelos estragos incentivados principalmente na Amazônia e no Pantanal.