UM RETORNO AO PASSADO.
Quem tinha 7 ou 8 anos em 1954, se lembra das posições políticas altamente antagônicas entre os partidários, do PTB de Getúlio Vargas e dos partidos que lhe faziam oposição, entre eles o PSD, o PL, UDN e outros, tantos que, em grande número, existiam.
Vivia-se, no Brasil, um extremado clima de fanatismo manifestado tanto pelo PTB, como pelas outras siglas.
Me lembro que os partidários do PTB- eram chamados- me perdoem o termo- de “Petebostas” por seu adversários e estes eram classificados- pelos do PTB- com a alcunha de “corvos” “manada” “reacionários” “traidores” e por ai em diante.
Para o PTB, era impossível ser amigo, ou estabelecer uma conversa com alguém que não fosse seu correligionário e de igual sorte para os filiados às outras dezenas de agremiações não era admitido qualquer tipo de relação com alguém do PTB, que não fosse caracterizada pela discórdia, a do desforço físico ou até confronto mediante a utilização de armas brancas ou de revolveres calibre 38 ou 45 de uso -tão comum- naqueles tempos.
Ambos os lados se declaravam inimigos pessoais de qualquer homem ou mulher que fosse filiado a outro partido adversário do seu.
Vivíamos tempos difíceis, em todo o Brasil e, na fronteira do Rio Grande do Sul , não raras vezes, nos ‘bolichos” de campanha, nos comércios de carreira, ou nos canchas de osso das cidades tinha-se, todos os domingos, notícias de mortes de pessoas,- adversários e desafetos políticos,- cujas discussões com antagonistas, tinham se acalorado e o revolveres ou as facas foram usadas para responder as ofensas e silenciar o opositor.
A situação chegou a tal ponto que em 24 de agosto de 1954 o Getúlio Vargas, não aguentando as acusações de mal -feitos que atribuíam a si e ao seu governo, se matou.
Os adversários de Getúlio e do PTB eram numerosos e, entre eles, se destacava o Jornalista Carlos Werneck de Lacerda que pertencia a União democrática nacional- UDN cujos discursos eram marcados por acusações contundentes e por uma capacidade de comunicação e convencimento, singulares, próprias do grandes e eloquentes tribunos.
O Brasil foi acometido por inúmeros confrontos de grupos com ideologia contrarias entre si, que deixaram o país em um clima de terror e de morte.
No Rio Grande do Sul, a Rádio Farroupilha que ficava no Viaduto Otávio Rocha, no Centro de Porto Alegre, – Foi incendiada por partidários Getulistas – porque pertencia ao Grupo Diários Associados, do Jornalista Assis Chateaubriand o qual, através de seus veículos de comunicação, fazia oposição a política de Vargas, e condenava a trilha e o caminho do nacionalismo e do estatismo, que eram bandeiras, singulares e especiais, de Getúlio Vargas e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Fiz esta digressão para, com grande tristeza, constatar que nos dias de hoje estamos nos relacionando, politicamente, com o mesmo modelo de 1954 e, mesmo sendo- o ‘ País do futuro” - voltamos ao passado, e estamos agindo da mesma forma como fazíamos...há 70 anos.
É desnecessário dizer que estamos divididos e polarizados entre duas correntes ideológicas opostas – Bolsonaristas e Lulistas,- que dominam cenário político brasileiro.
E o campo de luta destas duas fações não se estende mais pelos bolichos de campanha, pelos comércios de carreiras e nem pelas canchas de ossos dos arrabaldes das cidades.
As guerras com suas batalhas são travadas, agora, no campo virtual das redes sociais, onde os inimigos se enfrentam, em batalhas verbais cujas armas são o a raiva, o ódio, o escarnio, o desprezo que os contendores nutrem -mutuamente- por aqueles que fazem partes das hostes oponentes e cujas reputações têm que ser destruídas.
Nessas batalhas tudo vale e tudo é lícito de ser usado por cada um dos exércitos em guerra.
Lamentavelmente, copiando os anos 50, já houve casos de morte, por arma de fogo e atentados por facas, praticados por fanáticos, de ambos os lados.
O que eu vejo de pior com relação a esta volta ao passado é que, naquele tempo, as famílias, pais, tios, avós, irmãos, sobrinhos, cunhados e amigos, estavam no mesmo lado e hoje, muitos familiares, por doutrinação sofrida na adolescência, nos bancos escolares do ensino médio e universitário, estão em lados opostos de parentes e amigos e, nas batalhas, desprezam os valores familiares e se atacam, mutuamente, rompendo relações que jamais poderiam ser extintas.
E parece que esta guerra vai longe, pois a cada dia que passa as hostes, que dela participam, produzem mais raiva, mais aversão e mais ódio entre si, atitudes estas que alimentam um antagonismo que, com certeza produzirá na linha do tempo, prejuízos imensuráveis para o país e para todos nós.
Reeditamos o passado e o tornamos mais cruel, mais violento, mais ignorante, mais odioso e com atitudes mais incompreensíveis, lamentavelmente...
Cabe- a cada um de nós- fazermos uma profunda reflexão e assumirmos um dever de propósitos em busca do entendimento, da paz, da harmonia, das boas e altas relações pessoais, o que nos permitira construir um pais Democrático, Pacífico no qual as interações sejam de fraternidade e de cavalheirismo e se farão presentes no nosso dia a dia e nos livrarão das paixões, da adoração e da idolatria que dedicamos a falsos líderes que se servem de nosso fanatismo e de nossa ingenuidade , para atingirem seus objetivos pessoais, sempre escusos e contrários aos interesse do Brasil e de nosso povo.
Eu acredito que isto acontecerá!
( Recanto da Ana e do Erner 30.01.2024 Capão Novo)