Os 80 anos de Saldino Pires
O jornalista, historiador, escritor, pintor e escultor charqueadense Saldino Antônio Pires, hoje, está no litoral, curtindo a passagem de seus 80 anos junto aos familiares e amigos. Sua obra está, para Charqueadas, assim como a do professor Benedito Veit está para a região Carbonífera: pioneira e essencial.
Junto com a poetisa Valda Tissot Junqueira, a dona de banca de revistas e jornais Maria Loivaci de Lima, o cantor e compositor Alberto André, o produtor teatral Carlos "Tininho" do Rio Martins, o ator Rudimar Abreu, a atriz e poeta Alda Marici, o produtor cultural Manoel Henrique Paulo, a cronista Patrícia Ferreira, a escritora Cláudia Gelb, a bibliotecária Carina Pahim, o sambista Paulo Rebelo, a poeta Rosilane Rocha e a pintora Alexandra Virote, é uma das minhas referências na cultura local, com os quais agradeço a graça de ter convivido e interagido culturalmente neste tempo e espaço. Diria mais: Saldino Pires, assim como Valda Tissot, já está na categoria de ícone cultural charqueadense.
Charqueadas deveria estar realizando uma semana festiva pelas oito décadas de vida deste monstro sagrado, mas, ingrata, inclusive dilapidou parte de seu legado nas últimas décadas: Como está o Memorial ao Mineiro, cujo acervo foi sua responsabilidade? Qual o motivo, raios, do Museu de Arte e História de Charqueadas - MAHC, onde estavam suas pinturas sobre Charqueadas, ter sido desativado? Mas, se a cidade historicamente não preserva o rio, quanto mais sua memória, né?
Todavia, sua maior contribuição, seus livros, resistem na Biblioteca Pública Vera Gauss, como vigorosos monumentos de uma vida de trabalho dedicada à cultura e a histórica de uma comunidade. Charqueadas: sua origem, sua história e sua gente, de 1986, é seu trabalho-mor, até hoje único testemunho impresso de fôlego que possibilita aos charqueadenses saberem de onde vieram e como chegaram até aquele ano.
Um trabalho de força, determinação e comprometimento intelectual e físico: Saldino concebeu, pesquisou, escreveu, bancou, editou, montou e imprimiu o livro. Sim, montou. Como tipógrafo, montou letra por letra, página por página de sua obra, em meses de trabalho na gráfica do jornal Folha Mineira, onde o imprimiu. Por isso o chamei, linhas atrás, de monstro sagrado, eis que merece todos os exageros elogiosos, pois, no seu caso, soam apropriados.
Obrigado por tudo, valeu seu Saldino, meu respeito e admiração, sempre. E desculpa por nada mais do que esse texto no momento. Entretanto, o ano recém inicia. Feliz aniversário, monstro sagrado!
Abaixo, um artigo que escrevi a pretexto de seu aniversário de 70, em março de 2014, para o jornal Portal de Notícias, onde abordo parte de sua trajetória e realizações:
"Esse ano o senhor Saldino Antônio Pires comemora 70 anos de vida. Aliás, já comemorou, dia 31 de janeiro. Menciono aqui a passagem de seu aniversário por ser ele uma grande personalidade da cultura charqueadense, uma figura ímpar, eis que não conheço ter existido outra com a mesma vocação e tampouco vejo surgir uma igual para dar prosseguimento ao tipo trabalho específico que ele realiza: com o conteúdo voltado para retratar a comunidade da qual faz parte, em várias frentes de atuação cultural e realização artística.
Saldino é jornalista profissional, historiador, escritor, escultor e pintor, sempre, repito, com um trabalho orientado para a história da sua cidade, onde nasceu, sendo descendente de um dos primeiros habitantes dessas terras, Francisco Correia Sarafana. Na área jornalística, foi um dos fundadores e diretor do jornal Folha Mineira, de 1966 a 1986.
Além de produtor, é também um ativista da área cultural: foi fundador do Museu de Arte e História de Charqueadas – MAHC, que funciona anexo a prefeitura; primeiro presidente do Conselho Municipal de Cultura; foi responsável pelo acervo do Memorial do Mineiro, situado no Parcão, junto a ERS 401. Isso só para citar uma parte dos frutos de sua militância cultural.
Assim, seu nome, por sua produção artística, está ligado aos três dos principais equipamentos culturais da cidade: o Memorial, o MAHC e a Biblioteca Pública Municipal Vera Gauss. No Memorial, sua escultura em cimento armado 'Guardião' fica à entrada, lembrando que ali está a tratar-se da atividade exercida pelos trabalhadores mineiros.
Na Biblioteca podemos encontrar exemplares de suas três obras sobre a história local: Charqueadas: sua origem, sua história e sua gente, de 1986; Conhecendo Minha Cidade, editada em 1990, 1996 e 2000; e Histórias do povo de Charqueadas: um patrimônio ainda desconhecido, de 2012. No MAHC, suas pinturas já fizeram par com a de outros artistas locais em exposições. Tanto compromisso com a cultura local não passou sem o reconhecimento de seus pares: foi patrono da I Feira do Livro de Charqueadas em 1998 e, em 2006, do II Sarau Literário de Charqueadas, dentre outras homenagens recebidas ao longo dos anos.
Na pintura, Saldino começou em 1985, produzindo quadros à óleo, sendo que podemos destacar a série 'Retratos de Charqueadas' onde fez releituras de fotografias referentes a história da cidade. Na capa de seu primeiro livro é possível ver reproduzidas três obras dessa série: 'O Sobrado de Charqueadas', 'A Torre de Aço' e 'A Procissão dos Navegantes'.
Como escritor, ressalta, em seus livros, através de gênero crônica, as histórias características do povo local. Nesse mesmo sentido vão seus trabalhos publicados nas edições da Mostra Literária de Charqueadas de que participou e nos textos expostos nas sete edições do Sarau Literário de Charqueadas, realizadas no Solar Shopping. 'O Chafariz da Praça', crônica publicada em seu mais recente livro, é um exemplo clássico de sua literatura. Podemos citar ainda outros textos marcantes: 'Funeral da Pretinha', 'Cadê a ponte, prefeito?' e 'Discurso no enterro'.
O que está escrito acima resume uma parcela das atividades do cidadão charqueadense Saldino Antônio Pires, cuja biografia se confunde com a cultura e a história local, as quais testemunhou, participou, retratou e traduziu. Realmente, uma figura importante ele. Espero, com esse artigo, fazer justiça a tal importância, divulgando sua dimensão neste ano marcante de sua vida. Valeu seu Saldino!"