Pt. II
PRA ACABAR HOJE HOUVE um enterro... Eu não sei de quem foi, mas pude ver – pela comoção – que era uma pessoa querida. Aqui os enterros são como os enterros de “antigamente”. Nas cidades onde meus pais cresceram (Inhambupe e São Felipe) que ainda são MENORES do que Lençóis, ainda acontecem, assim desse jeito; as pessoas carregam o caixão pela rua e elas cantam e choram. É muito triste, mas diferentemente da forma que fazemos na cidade grande, é muito bonito.
No dia que eu morrer provavelmente haverão umas quinze pessoas e eu serei cremado num cemitério de Cinco Estrelas. Uma bosta. Por alguns anos comentarão meus textos, rirão de uma piada ou outra... e Fim. Comentei com as pessoas que estavam comigo - todas assim chamadas: “Forasteiras”, que: “Nessas horas a gente vê que não PERTENCE, MESMO a tudo isso…” e uma delas me respondeu, que nessas horas a gente vê que “somos seres de passagem”. E isso é tão nítido pra eles! Eternamente nítido como não somos daqui. Eu tenho um duelo interno quanto a esse tema, mas no final das contas, acho que eles tem toda razão. Sou contra o ódio, é claro... A ideia de que nossa presença "retirará" coisas deles. Isso não pode ser 100% verdade. Pois as pessoas não são 100% boas ou 100% ruins.
MAS se algo der errado, e repente tivermos algum doente mental na presidência que resolva dizer que “Livro estão proibidos”, eu não continuarei aqui. EU ME PICO PRA SALVADOR. Porque eu SOU de Salvador. É como um útero... mesmo sendo um útero bastante indesejado. Enfim... Depois do velório passar, voltei pra casa tentando ir pela sombra. Cada casa que passei tinham algumas pétalas brancas de flor, na frente. Quando cheguei na minha... não tinha nenhuma! Senti vontade de rir... Eu sei. Eu sei... Não é engraçado. Mas eu sinto vontade de rir em horas bem impróprias. Inclusive não se assustem se no meu velório... vocês escutarem umas risadinhas incontidas, vindas de dentro do caixão.
(H.B)