SEM PESOS E SEM MEDIDAS

Na pacata cidade de Camaleoa, mas precisamente na Rua Deus Dará, dois comércios de nomes bastante sugestivos funcionam no mesmo quarteirão, um em cada esquina. Dois grandes supermercados na rua principal e mais movimentada da cidade. Os produtos que o cliente não encontra no SEM PESOS, certamente encontrará no SEM MEDIDAS. Os comentários na cidade revelam que comercialmente, tinham dominado o lugar. Nada os diferenciava na recepção ao cliente, pelo contrário, a indicação do outro, os uniam. O método de cordialidade não dava margem a intenção de competitividade e sim, de cumplicidade.

Como toda pequena cidade interiorana, aquela não fugia a regra. Ali, todos se conheciam e cumprimentavam-se pelo nome. Embora muitos preferissem ser chamados pelo apelido.

- É mais popular. Afirmavam.

Os dois comerciantes haviam retornado a sua cidade natal depois de duas décadas de andanças pelo “mundo”. Conheceram as ruas da cidade grande, as noites geladas do sul, o perigo nas esquinas. Foram anos de pura sobrevivência. Tentaram inclusive à aproximação com políticos, uma vida mais fácil. Não deu certo. Muito serviram e não foram servidos.

Todavia, trouxeram na bagagem o aprendizado de capacidade na camuflagem da expressão facial, da maneira de sorrir e até disfarçadamente, de agradecer.

É comum nestas cidades a escolha do lado político ser apenas dois: A ou B. E a alternância de lado ser também de fácil opção, pouco depende da árvore e mais usual, o tamanho da sombra que deseja.

A presença dos dois empresários era sempre requisitada e presente nos eventos comemorativos e oficiais do calendário municipal. Os patrocínios vultosos faziam toda diferença. O plano traçado por eles desde o retorno seguia conforme planejado. O tapinha amistoso nas costas e os discursos eloquente direcionava o futuro político da cidade.

Os camaleões estavam camuflados na rua do Deus proverá.

E o slogan há muito estava pronto: Nós e vocês, sem pesos e sem medidas.