O COMPOSITOR

O COMPOSITOR

Nelson Marzullo Tangerini

Um dia desses, minha esposa, Verônica, me mostrou um vídeo sobre os cantores brasileiros que cantavam em inglês. E me lembrei de que eu, um dia, quis muito embarcar nessa aventura, com o pseudônimo Paul Silverstone. Cheguei até a mostrar algumas letras minhas para o diretor da Cultura Inglesa do Méier, onde estudei. Ele era um fã de Burt Bacharach.

Sabendo de minhas intenções de buscar um lugar ao sol, uma pessoa da família telefonou para minha mãe aconselhando-a a tirar essa ideia da minha cabeça. Mas se eu escrevesse letras em português, alguém me ajudaria?

Escrevi algumas canções açucaradas que acabaram indo para o lixo como “In your eyes”, que dizia: “The star that shine in the sky I can see them in your eyes”. Ou “Love your girl friend”, que dizia: “Love your girl friend, send her a bench of flower! Stay with her in Every moment of the day...”.

Acompanhava o trabalho de Morris Albert, Dave MacLean, Steve McLean, Paul Dever, Paul Bryant, Light Reflections, Pholhas, entre outros. Por que não arriscar? Mas não arrisquei.

Gostava de compor. Quem me vê assim escrevendo, não sabe nada de mim. Dentro de mim mora a música. E escrevi inúmeras canções (em português) com Nelson Maia Schocair, Oswaldo Martins, Roberto Costa, Vavá, Emilson Betuel, Reinaldo Palmeira, Adalberto Barboza, Paulinho Kraemer e Maurício Silveira.

Apenas três músicas minhas foram gravadas: “Energia Azul”, de parceria com Adalberto Barboza, gravada pela banda Suburblues, “Magia Reggae”, de parceria com Emilson Betuel, e “Canto e danço, de parceria com Adalberto Barboza e Emilson Betuel. As duas últimas, gravadas pela Betuels Banda.

Gosto especialmente de “Depois das 10”, escrita de parceria com Adalberto Barboza, depois de nos embebedarmos de Cole Porter:

“Quando estás a meu lado,

Depois das dez,

Olhando a lua,

Escutando um jazz,

Ninguém nos segura

Na nossa fissura,

Estou a teus pés.

Luzes da cidade,

Brilhando lá fora,

Nos dizem que é a hora

De nossos corações.

Amor de verdade,

Eletricidade

Fortes emoções.

...

Cama arrumada,

Retrato da amada,

Clima de amor.

O jazz nos chamando,

A chama queimando

A nosso favor”.

Acho que esta canção, não por ser minha, devia ser gravada por alguém da MPB. Ao piano, já ouvi, ela se torna uma música muito bonita. Tem poesia e uma bela melodia. Fiz várias fitas de “Depois das 10” e as entreguei para vários cantores. E nada.

É triste ligar o rádio e ouvir tanta porcaria, e perceber que não há mais espaço para quem ousa associar a boa música à poesia.

De qualquer forma, entrei para a História da Música com três canções: “Energia azul”, “Canto e danço” e “Magia Reggae”. Mas... quem sabe outras músicas minhas possam ser gravadas? Seria pretensão minha querer ser lembrado, também, como compositor?

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 29/01/2024
Reeditado em 29/01/2024
Código do texto: T7987270
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