Trabalho de formigas
Ontem fomos à fazenda fazer silagem para o gado. Brinco que fomos fazer as “marmitas” das vacas. Sempre vem a ideia da fábula da Cigarra e a Formiga. Fomos trabalhar de “formigas”, cortando e armazenando o silo para uso na estiagem. E eu ficava encarapitada no trator com a ensiladeira que Rossini dirigia, ou estava dirigindo o outro trator, amassando o silo. Rossini confiou que eu pudesse ajudar e me ensinou a trabalhar. Mas durante a colheita do milho, a gente foi vendo tanta coisa pelo caminho e é sobre isso que quero contar. Passando por um pequizeiro, vimos muitas cascas de cigarras grudadas no tronco da árvore. Rossini brincou que elas penduraram suas roupas nos cabides e se mandaram e eu emendei que deixaram para trás as roupas de cor nude e se vestiram de gala para o show que sempre dão em setembro. Imaginei seus vestidos dourados ou beterraba ou azuis… Ou então são “clarissas”, do Convento de Santa Clara, porque suas cascas lembram trajes usados pelas religiosas, marrons. Num pé de milho vimos um ninho tão perfeitinho, tão bem cuidado. Eu avisei ao Rossini que me perguntou se havia ovos ou filhotes. Na verdade, não houve tempo pra enxergar, ficaria para a próxima “beca”. E quando passamos por lá, Rossini perguntou se eu via algo no ninho. Se houvesse, seria capaz de jurar que ele deixaria aquele único pé de milho, a fim de proteger os bichinhos. Como não havia nada de vida, o pé e o ninho foram engolidos pela grande boca da ensiladeira. E de repente, contamos algumas seriemas, que descobriram que nós éramos mágicos do milho, que debulhávamos milho para elas e jogávamos para o alto. Elas iam à frente do trator ou atrás, nem um pouco desconfiadas como costumam ser, mas em frenesi… Pelejamos até de tardinha, quando viemos pra casa. Depois do banho, deitei e dormi como uma pedra. Esse trabalho cansa o corpo, mas descansa a mente. Sinto-me calminha e feliz da vida pelas coisas que aprendi. Gratidão ao professor Rossini.
Dedico ao Rossini Rezende, com amor.